sábado, 29 de novembro de 2014

Santuários eleitorais do Bolsa Família




Muita gente pobre recebe por necessidade, mas outras usam por espertezas.

Próximo a completar 12 anos, beneficiando, hoje, 13 milhões de famílias no País, dos miseráveis rincões do Nordeste às periferias do Sul maravilha, o Bolsa-Família está longe de ser um programa de política pública. O vai e vem das famílias é tão intenso quanto o esforço que o Governo Federal faz para inserir mais e mais famílias humildes na sua rede de beneficiados.
Quem recebe o benefício é pobre, continua pobre e não aprende nada. O Governo criou um programa paralelo para reciclar bolsistas e tentar sua reinserção no mercado de trabalho com poucos resultados. Em nove Estados do Nordeste percorridos nos últimos 15 dias, para esta série de reportagens, constamos que as fraudes continuam a comprometer também os resultados e efeitos do programa.

E não se observam apenas em grotões. Em Feira de Santana, uma das maiores cidades do interior baiano, com mais de 650 mil habitantes, Jessica Silva Vieira trabalha num restaurante, ganha salário mínimo e não abre mão do cartão magnético do Bolsa Família, que lhe garante mais R$ 147 por ter uma filha na escola.

Jessica Silva é garçonete em Feira de Santana, na Bahia, e complementa renda com a Bolsa Família.
Essas irregularidades, entretanto, existem deste que o ex-presidente Lula criou o programa. Existem casos famosos de escândalos, que ganharam a mídia nacional e que não se deram apenas em território nordestino. Um gato de estimação fez parte, durante cinco meses, da lista de beneficiários do Bolsa Família.
O caso aconteceu na cidade de Antônio João, Mato Grosso do Sul. O bichano de nome Billy, foi inscrito com nome e sobrenome por seu dono, Eurico Siqueira da Rosa, que era coordenador local do programa do governo.
A fraude foi descoberta durante uma visita de um agente de saúde, que ao indagar a esposa do coordenador, sobre o motivo que a criança não foi levada para fazer a pesagem, ela respondeu espantada “Mas o único Billy aqui é o meu gatinho!”
No Amapá, uma investigação do Ministério Público Federal denunciou a chefe de uma colônia de pescadores que teria cadastrados moradores da cidade de Itaubal, retendo suas carteiras de identidade para obrigá-los a votar em determinado candidato.
Em um outro caso ocorrido no Paraíba, descobriu-se que um empresário dono de uma agência de eventos, teria utilizados “laranjas” em vários esquemas. Um dos laranjas que recebia o Bolsa Família tinha uma Land Rover e mais seis veículos cadastrados em seu nome.
Em fraude descoberta no município de Barra do Quaraí, no interior do Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai, golpistas usavam endereços falsos e documentação de pessoas mortas para receber o benefício do Governo.
Em Jequié na Bahia, o MPF identificou e acusou o vice-prefeito e mais três vereadores do município, que estariam recebendo o auxílio do Bolsa Família de forma ilegal. E este caso não foi isolado: segundo um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social, mais de dois mil políticos em exercício de mandato estariam recebendo o benefício.
Fotos: Magno Martins e Otávio Souto