Dentro do presídio quem manda é o crime e ele, por tudo o que
representa, vai ser um alvo fácil", disse ao Estado de S.Paulo o líder
sem-terra José Rainha Júnior ao comentar a futura prisão do ex-ministro
da Casa Civil, José Dirceu, condenado no julgamento da Ação Penal 470 a
10 anos e 10 meses de cadeia -- dos quais deve cumprir 1 ano e 9 meses
em regime fechado.
Rainha,
que foi banido do Movimento dos Sem-Terra (MST) em 2007 e, em seguida,
formou o MST da Base, diz que prender Dirceu numa cadeia comum, como
sugere o relator do processo, Joaquim Barbosa, equivale a condenar o
ex-ministro à pena de morte. "O Zé (Dirceu) é um lutador que sobreviveu à
ditadura militar, mas no nosso sistema carcerário, ele vai virar um
troféu", analisa o líder sem-terra. "Conheço como funciona o sistema e
vai ser muito difícil ele sair com vida", completou.
José
Rainha fala com a propriedade de quem permaneceu nove meses na prisão.
Ele foi preso em junho do ano passado, durante a Operação Desfalque da
Polícia Federal, que investigava desvio de recursos da reforma agrária.
Como já havia sido detido antes por crimes ligados à invasão de
fazendas, passou por celas de cadeias e de penitenciárias estaduais.
Quando
ele estava na Penitenciária de Presidente Venceslau, a família do líder
sem-terra recebeu uma carta revelando um plano para assassiná-lo. Na
época, o líder sem-terra foi transferido e incluído na lista de
lideranças rurais ameaçadas de morte elaborada pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT). "Lá dentro não há qualquer garantia de segurança, você se
vê sendo morto a qualquer momento", disse. Amigo de Dirceu há 30 anos,
Rainha disse que está preparando uma mobilização contra a sua prisão.
"Foi um julgamento injusto e o povo tem que ir para a rua", diz.
