sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Por onde anda o cantor Lindomar Castilho?

O bolero de Lindomar Castilho
Conhecido como o rei do bolero na década de 70, Lindomar Castilho retoma carreira depois de cumprir doze anos de prisão por assassinar a mulher
Nem os boleros mais tristes teriam desfecho mais dramático. A história que envolveu os cantores Lindomar Castilho e Eliane de Grammont acabou em tragédia, abrindo uma ferida que ainda está longe de cicatrizar. O goiano Lindomar e a paulista Eliane se casaram no dia 10 de março de 1979, dois anos depois de se conhecerem no corredores da antiga gravadora RCA, em São Paulo. O cantor, na época, já era conhecido como o rei do bolero enquanto ela ainda ensaiava os primeiros passos de sua carreira. O casal teve uma filha, Liliane de Grammont, e se separou exatamente um ano depois da data do casamento. “Antes de casar, os dois decidiram que ela não cantaria mais para se dedicar ao lar”, conta Helena de Grammont, 50 anos, irmã de Eliane e repórter do Fantástico.
Depois da separação, a cantora voltou a fazer shows. Na madrugada de 30 de março de 1981, ela cantava no Café Belle Époque, em São Paulo, acompanhada pelo violão de seu novo namorado, Carlos Randall, primo de Lindomar. Enquanto cantava os versos “Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim”, da canção “João e Maria”, de Chico Buarque, levou cinco tiros pelas costas. O autor do crime era seu ex-marido.
Depois de cumprir doze anos de pena – seis deles em regime semi- aberto – Lindomar Castilho ganhou liberdade em 1996 e tenta agora retomar a carreira, na esteira do sucesso de Reginaldo Rossi, outro cantor romântico que estourou nos anos 60 e voltou a ser notícia recentemente. O cantor está lançando Lindomar Castilho ao Vivo, o primeiro CD por uma grande gravadora desde o cumprimento da pena. “Minha voz não é a mesma, mas continua boa”, opina. Desde que se encontra em liberdade, Lindomar mora em Goiânia e evita ir a São Paulo. “Eu carrego um sentimento de culpa enorme”, diz o cantor. Arrependimento, no entanto, é uma palavra que ele prefere não pronunciar. “Não é arrependimento. A tragédia aconteceu, independente do meu querer ou não querer”, diz ele, enxugando as lágrimas e tentando mudar de assunto. “Agora estou procurando ocupar minha cabeça, trabalhando dia e noite nesse disco.”
Por ironia do destino, Lindomar saiu de Goiás para começar a carreira em São Paulo, em 1961, a convite de Paulo de Grammont, tio de Eliane e diretor artístico da Organização Vítor Costa, grupo de comunicação que detinha a concessão do canal 5. Nessa época Eliane nem era nascida. “Embora nossa família tivesse contato com Lindomar, nós só o conhecemos de verdade através de Eliane”, lembra Helena. “Conhecíamos o artista, não a pessoa”.
Ainda em 1961, o cantor lançou seu primeiro álbum, com repertório de Vicente Celestino. Daí em diante trilhou um caminho de sucesso, chegando a vender, na década de 70, 500 mil cópias de um LP, marca mais do que satisfatória para os padrões da época. Com o novo disco, Lindomar pretende vender ainda mais. “Minha filha, Liliane, me fez uma grande surpresa, me procurando um dia antes do meu aniversário, em 1998”, lembra Lindomar. “Foi ela quem me sugeriu que eu retomasse a carreira”.
Lindomar não via a filha havia 17 anos. Liliane – que não retornou o contato ao ser procurada por Gente – cresceu em São Paulo, criada pelas tias Helena e Carmen de Grammont. Ela tem hoje 20 anos, é dançarina e realizou um curso de seis meses na escola de dança Julliard School, de Nova York, financiado pelo pai.
Desde aquele reencontro, Lindomar e Liliane voltaram a se ver poucas vezes. “Eu não a procuro por respeito à família atingida”, argumenta o cantor que não se sente à vontade em ligar para a casa de Helena de Grammont, com quem a filha mora atualmente. “Liliane foi atrás da história de sua vida. Ela precisava conhecer o pai”, explica Helena. “Nós nunca falamos mal do pai dela, aliás nós quase nunca mencionamos sequer o nome dele.”
Depois de ser procurado pela filha, Lindomar voltou a fazer alguns shows. Logo veio o convite da gravadora Sony, que foi aceito na hora. O repertório reúne grandes sucessos de sua carreira, incluindo composições próprias e canções de outros autores que ficaram famosas na sua interpretação. Estão no disco, entre outras, “Eu Vou Rifar Meu Coração” (que tem mais de 50 regravações mexicanas), “Você É Doida Demais” (regravada por Leandro e Leonardo) e “Cabecinha no Ombro”. Lindomar vive em Goiânia e namora a funcionária pública, Vera Cruz de Castro Lobo, 49 anos, que o cantor faz questão de manter distante da imprensa. “Ela não tem nada a dizer sobre tudo que aconteceu”, afirma Lindomar.