A ministra Rosa Weber era o principal alvo da pressão; os pedidos eram para que ela ouça o recado das ruas
Joelmir Tavares – Folha de S.Paulo
Ao menos oito quarteirões da avenida Paulista, entre a avenida Brigadeiro Luís Antônio e a rua Augusta, foram ocupados por manifestantes pedindo a prisão do ex-presidente Lula, na noite desta terça-feira (3). Carros de som de cinco movimentos —Vem pra Rua, MBL (Movimento Brasil Livre), Endireita Brasil, Direita Brasil e Nas Ruas— se espalhavam no trajeto por volta das 19h. Não havia estimativa do número de participantes.
A garoa que caía em alguns momentos foi ignorada pelos manifestantes, muitos deles vestindo verde e amarelo, com bandeiras do Brasil e cartazes.
Discursos nos alto-falantes e cartazes citavam os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que nesta quarta-feira (4) julgam o habeas corpus que pode manter o ex-presidente solto.
A ministra Rosa Weber era o principal alvo da pressão. Os pedidos, resumidamente, eram para que ela ouça recado das ruas e faça justiça.
O voto de Rosa é considerado decisivo no julgamento: ela é contra a prisão após segunda instância, mas tem decidido os casos seguindo a jurisprudência do tribunal.
Conforme mostrou a Folha, a ministra negou liberdade a 57 condenados em segundo grau —e, no único caso em decidiu a favor, foi por causa da insignificância do crime (uma mulher condenada por roubar R$ 187 em mercadorias).
“Ei, Lula, vai para a cadeia” e “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” eram alguns dos coros cantados na Paulista, puxados por animadores nos carros de som.
Duas faixas gigantes, que podem ser lidas do alto dos prédios e helicópteros, exibiam as expressões “Lula na cadeia” e “STF corrupto”.
Também se espalham pela avenida mensagens de apoio à Operação Lava Jato e ao juiz Sergio Moro, além de pixulecos (infláveis que representam Lula como presidiário) e bonecos que mostram o magistrado de Curitiba como um super-herói.
“O Brasil não pode mais ser comandado pelo mecanismo do crime organizado”, gritava um manifestante em um dos caminhões de som, fazendo uma associação com a série “O Mecanismo”, da Netflix.
ATOS PELO BRASIL
O movimento Vem Pra Rua diz que foram convocados atos em mais de cem cidades, distribuídas por 20 estados. Estão previstos ainda protestos nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Itália e no Chile, segundo a organização.
O MBL marcou atos em mais de 70 cidades, espalhadas por 21 estados. O grupo fez intensa campanha em redes sociais pedindo o comparecimento aos protestos, "faça chuva ou faça sol", e relacionando a presença de manifestantes ao combate à impunidade.
Apoiadores de Lula também realizam atos pelo país a partir desta terça-feira, pedindo ao STF que conceda o habeas corpus a ele.
Estão agendadas mobilizações nas redondezas do prédio onde o petista mora, em São Bernardo do Campo, e em outras capitais. Defensores do petista vão ainda se concentrar em frente ao STF, em Brasília, durante o julgamento.
Nesta quarta, o SupreMo julgará habeas corpus do petista. O tribunal havia decidido que o ex-presidente não poderá ser preso até esta data.
O TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) condenou, em janeiro, o ex-presidente a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. No último dia 26, manteve a condenação ao analisar recurso da defesa do petista.