sábado, 31 de março de 2018

Planalto: autoridades tentam destruir reputação de Temer


Daniel Carvalho e Marina Dias – Folha de S.Paulo

Depois de passar a tarde inteira reunido com ministros e assessores, o presidente Michel Temer divulgou no início da noite desta sexta-feira (30) uma nota em que acusa “autoridades” de tentar destruir sua reputação, utilizando-se de “métodos totalitários”.
Na manifestação, Temer insiste que o decreto relacionado ao setor portuário não beneficiou a Rodrimar, empresa que está no centro da crise mais recente envolvendo o Planalto.
“Sem ter fatos reais a investigar, autoridades tentam criar narrativas que gerem novas acusações”, diz comunicado assinado pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.
O texto segue a mesma linha de raciocínio que vinha sendo adotada, nos bastidores, por ministros do Palácio do Planalto logo depois que alguns dos amigos mais próximos de Temer foram presos, na manhã de quinta-feira (29).
A tese é de que as prisões aconteceram para forçar delações premiadas que comprometam o presidente e criem um enredo substancioso que sirva de base para uma nova denúncia contra ele.
Temer já foi alvo de duas denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em 2017. Ambas foram engavetadas pela maioria dos deputados com o argumento de que os fatos apresentados pelos procuradores contra ele era uma “farsa”.
Agora, ele volta a utilizar a estratégia de desqualificar as investigações, discurso que encontrou eco nos aliados e teve êxito na época da delação da JBS.
“Tentam mais uma vez destruir a reputação do presidente Michel Temer. Usam métodos totalitários, com cerceamento dos direitos mais básicos para obter, forçadamente, testemunhos que possam ser usados em peças de acusação. Repetem o enredo de 2017, quando ofereceram os maiores benefícios aos irmãos Batista para criar falsa acusação que envolvesse o presidente. Não conseguiram e repetem a trama, que, no passado, pareceu tragédia, agora soa a farsa”, diz o comunicado.
Temer conversou com aliados por telefone e reuniu-se no Palácio da Alvorada com o advogado Antonio Cláudio Mariz, com os ministros Moreira Franco (Secretaria Geral), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) e Gustavo Rocha (Direitos Humanos e assessor jurídico), além do secretário de Comunicação, Márcio de Freitas.
Foi aconselhado a fazer uma manifestação mais jurídica e menos política, mas decidiu se pronunciar mais uma vez com críticas às “autoridades” que, desta vez, ele não nomina.
VIÉS POLÍTICO
A nota insiste que a ação desta semana teve viés político depois que Temer se colocou como pré-candidato à reeleição como presidente da República.
“O atropelo dos fatos e da verdade busca retirar o presidente da vida pública, impedi-lo de continuar a prestar relevantes serviços ao país, como ele fez ao superar a mais forte recessão econômica da história brasileira. Bastou a simples menção a possível candidatura para que forças obscuras surgissem para tecer novas tramas sobre velhos enredos maledicentes”, diz a nota.
“No Brasil do século 21, alguns querem impedir candidatura. Busca-se impedir ao povo a livre escolha. Reinterpreta-se a Constituição, as leis e os decretos ao sabor do momento. Vê-se crimes em atos de absoluto respeito às leis e total obediência aos princípios democráticos.”
Na quinta-feira, o porta-voz informal do Planalto, ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), fez críticas veladas ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou as prisões de pessoas ligadas a Temer.
O ministro, no entanto, esforçou-se para poupar a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que solicitou essas prisões.
O Planalto está em guerra com Barroso desde o início de março, quando o ministro autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer e promoveu alterações no indulto de Natal concedido pelo presidente no final de 2017.

Marun, inclusive, anunciou que pretende retomar seu posto de deputado em abril para apresentar um pedido de impeachment do ministro do STF.