Josias de Souza
Nenhum pai faria com um filho o que Lula, fundador do PT, faz com seu partido. A caminho da cadeia, Lula transforma sua psedo-candidatura presidencial num cavalho de batalha. Sabe que seu projeto político foi para o beleléu, mas não abre mão da pose de candidato. Com isso, levará o futuro do PT para trás das grades, retardando a escolha de um presidenciável alternativo —petista ou de outro partido. Um pedaço da legenda diverge. E a divergência começa a transbordar.
O mal dos partidos políticos é ter excesso de cabeças e carência de miolos. O PT sofre da mesma carência, mas com uma cabeça só. A relação do PT com Lula é movida por uma fé de inspiração cristã. Esse tipo de relacionamento não comporta o ingrediente da dúvida. Se Lula diz que o PT deve segui-lo em procissão para dentro do cárcere, a maioria dos devotos carregará o andor e acompanhará o grande líder com suas preces.
Em entrevista ao UOL, o governador petista da Bahia, Rui Costa ousou expor em público um pensamento que se dissemina nas profundezas do PT. Disse que o partido deveria cuidar do seu Plano B, sem excluir a hipótese de apoiar um candidato de outra legenda. Gleisi Hoffmann, a devota que preside o PT, ralhou: ''Essa é uma discussão que não está colocada para nós'', ela declarou. Seria o mesmo que “convalidar a tese da inelegibilidade” de Lula, acrescentou. O derretimento penal de Lula começa a trazer o drama do PT à tona. Logo, logo todas as divergências estarão boiando, malcheirosas, na superfície.