"O ministro Luís Roberto Barroso, já denunciou a existência de uma “Operação Abafa" para sepultar a Lava Jato"
O
novo depoimento de Ricardo Saud jogou mais luz sobre um personagem que o
governo se esforça para manter nas sombras. Trata-se do coronel João Baptista Lima, homem de confiança de Michel Temer.
Ex-oficial
da PM, Lima costuma ser citado como “amigo” do presidente. Puro
eufemismo. Investigações da Polícia Federal indicam que ele atuava desde
os anos 80 como faz-tudo do chefe. Arrecadava dinheiro, negociava com
empresários e fazia pagamentos.
O
coronel despontou no noticiário em abril de 2016, quando um empreiteiro
o acusou de intermediar o repasse de propina nas obras de Angra 3.
Temer ainda era vice-presidente, e a Lava Jato parecia mais interessada
em outros alvos.
Em
maio passado, Lima reapareceu na delação da JBS. Foi acusado de receber
R$ 1 milhão por “indicação direta" do presidente. No seu escritório, a
PF apreendeu recibos de despesas da família Temer. Em áudio entregue à
polícia, Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala, informava: “O coronel
não pode mais”.
Uma
semana antes da delação-bomba, o MST ocupou uma fazenda em nome de Lima
em Duartina (SP). O movimento justificou a ação como um protesto para
“denunciar as conspirações golpistas de Temer”.
Discurso
político à parte, os sem-terra levantaram uma lebre valiosa. No novo
depoimento à PF, Saud afirmou que a propriedade é de Temer, que usaria o
coronel como laranja. O Planalto nega todas as acusações.
Há
oito meses, os investigadores tentam ouvir Lima em inquéritos que
envolvem o presidente. Ele apresenta atestados de médicos particulares e
não aparece para depor.
A
blindagem do coronel também parece contar com o aval de autoridades
nomeadas por Temer. O diretor-geral da PF, Fernando Segovia, já ameaçou
punir o delegado que citou Lima em perguntas enviadas ao presidente.
Agora
sabe-se que a procuradora Raquel Dodge tem evitado opinar sobre medidas
pedidas no mesmo inquérito. Ela recebeu o ofício antes do Natal. O
carnaval acabou e a doutora ainda não enviou os papéis ao Supremo. O
relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso, que já denunciou a
existência de uma “Operação Abafa" para sepultar a Lava Jato.