Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
O presidente Michel Temer foi avisado no primeiro momento de que a
intervenção federal no Rio sepultaria de vez a reforma da Previdência
e, mesmo assim, bancou a medida. Passada uma semana da intervenção, o
Planalto avalia que a decisão ajudou o governo a enterrar o risco de
derrota na votação sem que fosse preciso enfrentar o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocou Temer na agenda positiva da
Segurança Pública e, embora, o presidente insista em dizer que não é
candidato, mantém aberta a ele uma porta para mudar de ideia e lhe dá
força para chancelar um candidato que não seja o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), hoje considerado pouco confiável pelo
MDB. A interpretação do Planalto é de que Alckmin fez corpo mole no PSDB
sobre a necessidade de aprovação de uma reforma da Previdência e de que
neste momento está de olho em possíveis votos de centro-esquerda,
especialmente depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter
sido condenado em segunda instância. Para o Planalto, se a intervenção
der certo, ela pode ser usada para turbinar um candidato do governo -
até mesmo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Dificilmente,
avaliam, ajudaria o presidente da Câmara, hoje mais distante de Temer do
que nunca. Além disso, para o Planalto, o uso de militares no combate à
criminalidade deixa Temer ou um candidato apoiado por ele em condições
de receber parte dos votos do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que, na
avaliação do governo, deve desidratar com o início formal da campanha, e
diminui a dependência em relação a partidos aliados que eram
fundamentais para a aprovação da reforma da Previdência. Dois sinais
dessa independência são a desistência do PTB de indicar Cristiane Brasil
para o Ministério do Trabalho e a demissão de Luislinda Valois, ligada
ao PSDB, do Ministério dos Direitos Humanos. A nova régua será usada na
reforma ministerial prevista para abril. A Segurança Pública está no
radar de Temer desde a crise nos presídios do Rio Grande do Norte, no
fim de 2017, mas ganhou força quando o governo identificou uma tentativa
do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), de jogar no colo da União o
ônus pela guerra de quadrilhas que resultou na chacina de 14 pessoas
durante uma festa de casamento em Fortaleza, no dia 27 de janeiro. A
rusga entre Camilo e o Planalto acabou mediada pelo presidente do
Senado, Eunício Oliveira (CE), que o colocou em contato direto com
Temer. Numa das reuniões com Temer, Eunício argumentou que, caso a ação
no Rio dê certo, o governo não teria recursos suficientes para atender
outros Estados que sofrem com a violência, entre eles sua base
eleitoral, o Ceará. Temer, de maneira direta, teria respondido que "a
intervenção é no Rio de Janeiro". No fim de todo o processo, um fato
corriqueiro quase impede Eunício de participar da cerimônia de
lançamento. Durante toda a manhã o Planalto tentou, sem sucesso, entrar
em contato com o parlamentar para avisá-lo do evento. O presidente do
Senado não atendia às ligações e o silêncio foi interpretado como sinal
de contrariedade. Na verdade, Eunício estava no escritório da residência
oficial da presidência do Senado, com o celular desligado, e como era
feriado, não havia funcionário para repassar as ligações.