Especialistas
em mitologia grega afirmam que era um jarro, e não uma caixa, o célebre
recipiente que Pandora resolveu abrir, contrariando as ordens de Zeus. O
resultado se conhece: liberaram-se todos os males que até hoje
atormentam a espécie humana.
Ainda
que inexato, vale o trocadilho: da Caixa Econômica Federal se
desprendem, com velocidade mas sem surpresa, os males resguardados por
anos de incúria, apadrinhamento e corrupção.
Não
se trata, como se sabe, do único escrínio a esconder calamidades desse
gênero. Mas poucas instituições ofereciam convite tão enfático ao
desvendamento.
Basta
mencionar o nome de um de seus vice-presidentes, empossado no governo
Dilma Rousseff (PT) por indicação de Michel Temer (MDB). Ex-ministro do
atual governo, Geddel Vieira Lima (MDB-BA) ocupou a vice-presidência de
Pessoa Jurídica entre 2011 e 2013.
Como pessoa física, parece ter preferido um apartamento em Salvador para realizar seus depósitos pessoais —contabilizados, naquele logradouro, em R$ 51 milhões.
Quatro
vice-presidentes da Caixa, e seu próprio presidente, agora são acusados
de irregularidades. O Ministério Público Federal havia recomendado seu
afastamento, já em dezembro. Segundo as investigações, o grupo atendia
demandas de empresas privadas, em troca de propina.
Sua
atuação era acompanhada por políticos como Eduardo Cunha, o próprio
Geddel, e um personagem identificado como o "Cabeça Branca", alcunha a
sugerir, para alguns peritos, o nome de Wellington Moreira Franco,
ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Dada a recomendação pelo afastamento dos dirigentes, o Planalto nada fez.
No dia 15 de janeiro, o Ministério Público alertou para eventualidade
mais drástica: a de o presidente Temer ser responsabilizado civilmente
por crimes que os executivos viessem a cometer.
Deu-se assim o afastamento temporário do quarteto, a que se seguiu providência mais sólida. Aprovou-se novo estatuto, pelo qual a diretoria do banco passa a ser nomeada por seu Conselho de Administração, e não mais pela Presidência da República.
Num
país em que até corporações privadas, como a Vale, conhecem a indicação
política, a medida tem limites. Não deixa de ser óbvio, entretanto, o
imperativo a que obedece, aliás em concordância com normas
internacionais.
Um banco estatal não é prêmio para apaniguados; mais provável que sejam, em caso de condenação, fechados em outro lugar.