Com o estilo “simplão” e a disposição de rebolar na defesa de colegas encrencados, o deputado novato ascendeu do baixo clero ao Palácio do Planalto
ÉPOCA – Débora Bergamasco
“Opaaaaaa, o que é isso?”, exclamou, encolhendo os glúteos e dando um pulinho para a frente o deputado federal Carlos Marun, do PMDB. Ele estava a poucos dias de tomar posse como ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República. “Acabaram de passar a mão na minha bunda”, riu, no lotado plenário da Câmara na noite da terça-feira, dia 12. Por trás do 1,90 metro de Marun, surge, lépido, o deputado Nelson Marquezelli, do PTB de São Paulo: “Deixo claro aqui que não passei a mão na bunda de qualquer um, não, mas acabo de passar a mão na bunda de um futuro ministro de Estado”, gabou-se.
Todos acham graça e a troça finda com um abraço e saudações de “meu ministro!”. Nos dias que antecederam a sua posse para um posto no Planalto, Marun foi tietado nos corredores do Congresso Nacional. “Se espirrar amanhã, saúde, viu?”, fez votos o deputado Benito Gama, do PTB da Bahia.
Alguns passos depois, o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini, de São Paulo, topou com o futuro responsável pela articulação entre governo e Parlamento e o intimou: “Ministro Marun, agora tem de conversar com a gente da oposição, hein? Nos trate bem”, pediu. “Eu sempre tratei, vamos conversar sempre”, disse Marun.
Mesmo com o tucano Antonio Imbassahy ainda ocupando oficialmente a cadeira – ele só foi exonerado na quinta-feira, dia 14 –, Marun começou a semana despachando como se já estivesse empossado, o que só ocorreu na sexta-feira, dia 15. Considerando as demandas impreteríveis dos congressistas, ele fez da sede da Procuradoria da Câmara, para a qual foi escolhido no início do ano, um “puxadinho” da Secretaria de Governo. Carlos Bezerra, do PMDB de Mato Grosso, acomodou-se em um sofá na antessala da Procuradoria, enquanto aguardava por Marun. “O senhor precisa despachar algo da Procuradoria? Pois já posso trazer uns advogados para atendê-lo”, diz um assessor.
“Não. Meu assunto é política”, respondeu Bezerra. No dia seguinte, o deputado Júlio César, do PSD do Piauí, abriu a porta do gabinete e bradou: “Ministrooooo. Desculpe aí, não vou atrapalhar, são dois minutos, é que estamos com uma demanda, ministro...”. “Rapaaaaaz, não me chame de ministro. É de-pu-ta-do. É Ma-run. Entre, sente aí...” Entre um despacho e outro, o ministro-deputado “simplão” matou um sanduíche de pão com ovo, que chegou embrulhado num papel pardo de padaria. Para acompanhar, uma Coca-Cola. Zero.
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