Fernando Segóvia cumprimenta Leandro Daiello (à dir.) no gabinete do diretor da PF, em Brasília
Repentina e sem razão perceptível, substituição na PF merece suspeitas
Jânio de Freitas - Folha de S.Paulo
A articulação é muito maior do que parece. Tomam-se como casos isolados, cada qual com existência e sentido próprios, a mudança na Polícia Federal, a divisão conflituosa do PSDB e as obscuridades da nova Procuradoria-Geral da República.
São, no entanto, partes que se interligam em um todo de ações e
expectativas ansiadas pelos políticos acusados de ilicitudes, ou
passíveis de sê-lo.
Quem
perguntasse por quê, afinal de contas, o pugilato no PSDB, na melhor
hipótese ouviria uma referência improvisada e vaga à eleição
presidencial 2018.
Mas,
enrolado em acusações desmoralizantes, Aécio Neves é alheio às
candidaturas à Presidência. O que lhe interessa é driblar os problemas
policiais e judiciais que o ameaçam. Interesse idêntico ao que move
Michel Temer e seu grupo.
O
senador Tasso Jereissati pensa no reerguimento do PSDB, Aécio Neves
pensa no PSDB como parte do governo que pode ser uma possibilidade de
deter, ou até reverter, os processos criminais e suas eventuais
consequências.
Esse
é o seu entendimento com a pessoa, o político e o objetivo de Temer. E
se mantém esse laço, apesar do que lhe custa, pode-se supor que tem
elementos indicativos de maiores probabilidades ali do que na força
política de um PSDB restaurado. A escolha de Aécio é como um depoimento
sobre intenções de Temer e seu grupo.
Já
por ser repentina e sem razão perceptível, a substituição do diretor da
Polícia Federal merece suspeitas. Ainda mais sugestiva é a escolha
feita entre políticos com problemas policiais-judiciais.
Além
disso, as opiniões consideráveis sobre o escolhido, delegado Fernando
Segóvia, são opostas demais. O que não chega a ser original, mas é
impróprio para o cargo —dos mais fechados ao conhecimento público de sua
atividade e, complemento apropriado, dos mais instrumentalizados para
ações de todos os tipos e fins.
Leandro
Daiello não caiu por falha funcional. Fosse por isso, a substituição
não precisaria se dar sem a participação do ministro que o tinha como
subordinado.
Em
seguida à concordância em permanecer no cargo, a pedido do ministro
Torquato Jardim, Daiello surpreendera com a desmontagem súbita da equipe
policial da Lava Jato. Não os que prendem: os que investigavam. Pelo
visto, não foi o bastante. E sabe-se qual pode ser o seguimento lógico
daquela medida.
Se
Daiello não caiu à toa, Segóvia não subiu à toa. Substituição que se dá
quando Raquel Dodge, substituta do incriminador de políticos, vai
completar dois meses no cargo sem, no entanto, deixar clara sua linha de
ação.
Carência
e coincidência mais fortes quando se sabe que decisões de Rodrigo Janot
passam ou vão passar por exame da equipe montada por Dodge. O provável é
haver, sim, o que deva ser revisto, com tantas medidas e tamanha
voracidade acusatória da Lava Jato. Mas a revisão compete a juízes. Na
própria Procuradoria-Geral da República, o exame expõe-se a propósitos
mais do que técnicos. Ainda que invoque tal motivação.
E
sem jamais negar atenção a Eduardo Cunha, uma observação que vale pelas
anteriores. Desde preso e até suas penúltimas manifestações, em juízo
ou não, ele fez acusações e insinuações gravíssimas a Michel Temer.
O
juiz Sergio Moro, com sua personalíssima imparcialidade, chegou a
intervir e eliminar várias perguntas de Cunha a Temer, porque
"constrangeriam o presidente".
Pois
bem, quando a direção da PF passa por substituição inexplicada, Aécio
racha o PSDB em favor de Temer e seu grupo, e a Procuradoria-Geral da
República cria mais suspense do que clareza, Eduardo Cunha eleva Temer a
inocente absoluto, vítima de difamações e de uma tentativa de golpe. Só
há um motivo para fazê-lo.