Lula e Dilma "perdoam os golpistas", mas quem os perdoa pelo que fizeram?
Luiz Inácio Lula da Silva perdoa "os golpistas". Dilma Rousseff perdoa "quem bateu panela".
E quem os perdoa? Até aqui, os cerca de um terço do eleitorado
recapturado pela combinação entre populismo canhestro e a impopularidade
sem limites do governo Michel Temer.
Isso
não os absolve, contudo. A ficha corrida de práticas do petrolão, para
ficar apenas no exemplo extremo da dissolução política dos anos do PT no
poder, fala por si. É ocioso apresentar os números da economia para
provar que Lula e Dilma são responsáveis por uma hecatombe.
Temer,
a prorrogação do jogo petista de poder, é um alvo fácil quando os
assuntos são práticas éticas e governança em geral -mas os mesmos
números da mesma economia são indiscutivelmente favoráveis ao que veio
no pós-PT. Isso obviamente não o absolve, contudo, pelos motivos éticos e
gerenciais citados.
A
transmutação do discurso do "Fora, Temer" para o "eu os perdoo" por
parte de Lula (Dilma, reencarnação algo pitoresca do ectoplasma que
vagou pelo Alvorada em 2016, é mera caixa de ressonância sua hoje em
dia) consegue rebaixar ainda mais o nível do jogo. Como se fosse
possível, eu sei.
Enquanto
isso, o PSDB pula de cisma em cisma, rezando para que os cacos sejam
recolhidos e galvanizados na cada vez mais provável candidatura de
Geraldo Alckmin. É uma possibilidade, até pelas especificidades de um
jogo eleitoral que abre espaço exíguo para as aventuras incentivadas por
quem não tem voto que estão na praça.
Resta
ao tucanato descobrir se ainda tem voto, e é essa dúvida correta que
incentiva as dissensos, distorções, aventureiros e sonhos de noite de
verão que pululam no mercado do centro, centro-direita, campo
conservador, chame como quiser.
Lula
tem voto, e sabe que isso pode lhe garantir peso na disputa jurídica
que promete travar pela candidatura. O PT, que havia jogado a toalha
sobre a empreitada, voltou a se animar com análises e pareceres que
permitem sonhar com um puxador de votos de primeiro turno para evitar
que o partido vire uma sigla média na Câmara e perca tempo de TV e Fundo
Partidário.
Azar
do país, que irá conviver com uma instabilidade homérica por cortesia
desse cálculo. Particularmente azarados são os integrantes do
contingente de iludidos que gritam até hoje que "foi golpe", só para
agora fingir que não estão vendo seus incensados golpeados dizerem que
está tudo bem, pois afinal de contas precisam do pessoal do "golpe" não deixar a fonte secar.