Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Depois de se enrolar com o próprio gravador, Joesley Batista resolveu parar de falar. O empresário passou quatro horas em silêncio diante da CPI da JBS. Enquanto ele segurava a língua, os parlamentares o usaram como escada para aparecer na TV Senado.
A
sessão promoveu o reencontro do delator com os delatados que o
bajulavam. Ao menos 15 integrantes da CPI receberam dinheiro do
frigorífico na última campanha. Diante das câmeras, eles preferiram
omitir a ajuda para atacar o ex-aliado.
"Acho que o senhor não é tão bandido quanto confessa ser", disparou o relator Carlos Marun (PMDB-MS),
destinatário de R$ 103 mil da JBS em 2014. "O senhor, que era um
mafioso de terceira categoria, resolveu achar que era o Al Capone",
prosseguiu.
O
deputado domina a temática como poucos. Ele despontou do anonimato como
escudeiro de Eduardo Cunha, a quem foi visitar na cadeia. Depois virou
defensor de Michel Temer, alvo de duas denúncias criminais.
"De
tanto que os senhores armaram, caíram na própria armação", repreendeu
João Rodrigues (PSD-SC). Ele declarou ter recebido módicos R$ 7.500 da
JBS na última eleição.
Joesley
também enfrentou a artilharia de parlamentares bancados por seus
concorrentes. "Temos a sensação de que sua família é uma quadrilha, e a
sua empresa, uma organização criminosa", atacou Heuler Cruvinel
(PSD-GO), que levou R$ 100 mil do frigorífico BRF.
O
deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que recebeu R$ 66,4 mil da JBS, tentou
aliviar o clima com uma piada. "O senhor Joesley conseguiu fazer o
Roberto Carlos comer carne", gracejou. Em seguida, ele voltou a
esbravejar contra a Lava Jato.
Num
raro momento de trégua, João Gualberto (PSDB-BA) parou de bater no
delator e se lembrou dos delatados. "Todo mundo sabe que são corruptos
os vários que receberam", disse. Antes de ser fuzilado pelos colegas,
ele se corrigiu: "Não digo todos, não quero ofender todos..."