O que me vem na lembrança, neste dia, é aquela impressão que guardei de minha infância . Neste dia, minha mãe nos vestia com
a melhor muda de roupa e nos dizia que iríamos visitar e rezar para nossos entes queridos que já haviam partido desta vida.
Nunca
achei o programa divertido, muito pelo contrário, pois o sol de
novembro nos castigava. No cemitério, depois de rezar
e acender velas para nossos parentes falecidos, ficávamos perambulando,
de túmulo em túmulo, lendo as lápides, vendo fotos e tentando achar o
túmulo de algum conhecido. Claro que respirando muita fumaça das velas
queimando, além do cheiro enjoado exalado por
determinados arranjos de flores sobre os túmulos.
O
portão de entrada se transformava e ainda se transforma num verdadeiro
mercado a céu aberto. Lá fora, Fazíamos a festa!
O Dito sorveteiro também marcava presença vendendo seus deliciosos
picolés, metade deles se derretia pelo calor insuportável, sujando nossa
roupa de ir à missa.
Quando diante do túmulo de algum conhecido de pouco poder aquisitivo, sem lápide e apenas com um cordão de terra e uma simples
cruz de madeira, tínhamos a impressão que o coitado não tinha ninguém por ele e às vezes até uma vela acendíamos.
Também me impressionava ver o túmulo dos mais abastados, feitos de granito e acessórios de bronze. Alguns pareciam uma pequena
capela, outros verdadeiros mausoléus.
Uma das lápides mais interessante que li dizia: “Aqui é lugar onde nossa vaidade e orgulho terminam e passamos a ser todos
iguais”.
Nestas
andanças pelo cemitério, vários “filmes” vinham em minha mente. Diante
de cada túmulo, de uma pessoa conhecida, uma
história diferente era contada por minha mãe sobre a vida do falecido.
Eu tinha impressão que ela conheceu a vida de todos que ali jaziam.
Quando passava num túmulo que se destacava pelos ornamentos, dizia:
- Este é o defunto mais rico do cemitério!
Nos
túmulos de crianças, ou recém nascidos, dizia que estes já tinham
virado anjos e estavam voando por aí cuidando das almas
das pessoas. Quando eu disse a ela, na maior ingenuidade, que também
queria virar anjo, levei um sutil beliscão e uma reprimenda do tipo:
- Você tá louco? Só vira anjo quem morreu. Por acaso você quer morrer, seu moleque?
Pelo jeito, para anjo eu não servia!
Hoje,
deveria construir um cemitério somente para políticos corruptos só
assim acabava definitivamente tanta aglomeração de
pessoas nos cemitérios, tenho certeza que o grande público não iria
lembrar deles, que patrocinaram tanta crise e arrocho salarial,
desmandos, corrupção, roubalheiras, e lavagem de dinheiro. Ufa!
Quero meu desejo atendido, como diz o cronista esportivo Herbeth Mouze Rodrigues “ eu penso assim e você “? (Por Valterlino Pimentel)