Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Existem
os ministros insensatos, existem os ministros sem noção e existe a
ministra Luislinda Valois. Titular dos Direitos Humanos, ela apresentou
um pedido inusitado. Queria furar a regra do teto constitucional para
acumular vencimentos e receber R$ 61,4 mil por mês.
Como
ex-desembargadora, Luislinda tem direito a uma aposentadoria de R$ 30,4
mil brutos, paga pelo Tribunal de Justiça da Bahia. O cargo que ela
ocupa no governo oferece salário de R$ 30,9 mil brutos.
A
Constituição estabelece que nenhum servidor pode receber mais do que o
subsídio dos ministros do Supremo. Por isso, o contracheque da ministra é
mordido pelo chamado abate-teto. Nos últimos meses, o desconto foi de
R$ 27,6 mil.
Somando
a fatia intocada do salário à generosa aposentadoria do Judiciário,
Luislinda ainda recebe R$ 33,7 mil brutos. É o suficiente para garantir
seu lugar no topo da pirâmide social brasileira. Segundo a PNAD, o
rendimento médio domiciliar no país é de R$ 1.226.
Mesmo
assim, a ministra se considera desafortunada. No requerimento revelado
pelo jornal "O Estado de S. Paulo", ela se queixou do corte e afirmou
que sua situação "se assemelha ao trabalho escravo".
Filiada
ao PSDB, Luislinda passou o Dia de Finados tentando defender o
indefensável. "O Brasil está sendo justo comigo?", questionou à Rádio
Gaúcha. "Como é que eu vou comer? Como é que vou beber? Como é que vou
calçar?", prosseguiu, em protesto contra o abate-teto.
À
CBN a tucana argumentou que é obrigada a "se apresentar trajada
dignamente". "É cabelo, é maquiagem, é perfume, é roupa, é sapato, é
alimentação. Se eu não me alimentar, eu vou adoecer e aí vou dar
trabalho para o Estado", disse.
Num
governo insensível às minorias, a ministra dos Direitos Humanos era
criticada por permanecer quase todo o tempo em silêncio. Pelo que se
ouviu no feriado, seria melhor que ela continuasse assim.