Em evento nacional do coletivo de mulheres
do PT, realizado em Brasília na noite deste sábado (7), o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse que é preciso "construir uma narrativa"
para convencer as mulheres a ingressar no partido e na política. Mas o
discurso desagradou parte das militantes, que entendeu que Lula reforçou
estereótipos de gênero. "Eu acho que nós estamos precisando construir
uma narrativa que convença a mulher que [ela] está preparada, que tem
mais jeito de cuidar de uma cidade, de um Estado ou de um país do que um
homem", disse Lula, ao lado da presidente nacional do PT, a senadora
Gleisi Hoffmann.
"Governar é antes de tudo você exercitar a
sensibilidade. A palavra 'cuidar' é mais pertinente [do que
'governar']", disse Lula, para quem um partido como o PT deve "cuidar do
povo". Recebido por centenas de mulheres com gritos de "Lula guerreiro
do povo brasileiro", o ex-presidente reforçou sua intenção de se
candidatar a presidente em 2018 e não citou as acusações de corrupção de
que é alvo na Operação Lava Jato.
No único momento em que fez uma menção
genérica às investigações, o petista afirmou que há grupos que "querem
dizer para a sociedade que o PT tem que ser banido porque é uma
organização criminosa". Com discurso direcionado para a militância
feminina, Lula começou dizendo que "a mulher não é objeto de cama e
mesa, a mulher tem que ser sujeito da história". Depois, citou exemplos
de perseverança dados por sua mãe e sua mulher, Marisa, morta em
fevereiro deste ano.
Lula disse que era a primeira vez que
falava em um evento só de "companheiras", o que o teria deixado
apreensivo sobre o que dizer. A receptividade de parte das militantes
começou a mudar quando ele afirmou que é preciso que o Estado dê creche
para que as mulheres tenham tempo de trabalhar e de fazer
política. Diante do burburinho na plateia, que achou a fala machista,
Lula retomou o rumo dizendo que, como a mulher conquistou espaço no
mercado de trabalho, "falta o homem conquistar espaço na cozinha".
Ao dizer que a mulher tem mais jeito para a
política porque sabe "cuidar" -algo que, para ele, "vem da
maternidade"-, uma militante reclamou "tá piorando". "Como a gente vai
despertar na cabeça da mulher [a participação política]?", disse Lula.
Mulheres que estavam ao fundo se queixaram, dizendo que não é preciso
despertar a cabeça delas. "Algumas coisas que eu disse aqui são
inquietações de uma pessoa que faz política há 50 anos. Eu estou
disposto a discutir essas inquietações, para resolver o problema da
participação da mulher e da chegada da mulher ao poder", disse o
ex-presidente.
O único jeito da gente governar é a gente
fazer coisa diferente do que fez até agora. Sem a participação da mulher
não vamos construir uma sociedade mais justa, socialista,
igualitária." Para a militante do movimento social de mulheres Irani
Elias, do Recife, a falta de participação da mulher na política é uma
questão de estrutura do poder, não de voluntarismo. "Tem coisas que a
gente não concorda com a fala dos homens e isso também inclui o
presidente Lula", disse ela, que tentou interromper o discurso aos
gritos diversas vezes.
O evento do PT vai eleger neste domingo
(8) a nova secretária nacional do coletivo de mulheres, que substituirá a
atual, Laysi Moriére. Depois do discurso, a maioria das militantes fez
fila para abraçar Lula e tirar fotos. Com informações da Folhapress.