Dois
fatos vêm sendo confirmados por todas as pesquisas e parecem inegáveis
no retrato do momento: a grande resiliência do ex-presidente Lula na
liderança da disputa presidencial, mesmo depois de condenado e delatado
pelo ex-amigo Antonio Palocci, e a impopularidade superlativa do
presidente Michel Temer, a maior de todas as séries de todos os
levantamentos pós-ditadura. Fora isso, porém, há uma grande confusão nos
dados trazidos pelos institutos, expondo enormes contradições no
eleitorado, que já não reflete só a tradicional divisão das forças
políticas, mas chegou a um estado de fragmentação, ou quem sabe,
estupefação.
O
Datafolha do fim de semana ajuda a reforçar essa percepção quando se lê
o conjunto da obra. O mesmo Lula que lidera em todos os cenários,
chegando a 36% das preferências, e teve uma queda de 4 p.p. em sua
rejeição – de 46% para 42% – deveria ser preso na opinião de 54% desses
mesmos entrevistados.
Vamos
supor que quase todo mundo que rejeite Lula e diga que nunca votará
nele considere que ele deveria ser preso em razão das acusações de que é
alvo na Lava Jato. Ok. Ainda assim, sobra algo em torno de 10p.p., um
pessoal que, estranhamente, não rejeita Lula mas quer vê-lo preso?
Do
Planalto à cadeia, da cadeia ao Planalto, Michel Temer também é alvo de
opiniões contraditórias: 89% acham que a Câmara deveria aceitar a
segunda denúncia contra ele, mas caiu de 65% para 59% o contingente dos
que acham que ele deveria deixar logo a presidência da República. Tem
alguma lógica quando se pensa que aproximam-se as eleições. Mas pouca
quando se constata que, uma vez aceita a denúncia, como querem os 89%, o
presidente é imediatamente afastado.
Os
institutos dificilmente terão responsabilidade por essas contradições,
já que usam a mesma metodologia de sempre. O que parece confuso mesmo é a
cabeça do brasileiro, imerso num ambiente político pra lá de
esquizofrênico.
O que quer dizer tudo isso? Quer dizer que, um ano antes da eleição, a única certeza é a incerteza.