O
Brasil tornou-se um país paradoxal. Em nova denúncia contra Michel
Temer a Procuradoria sustenta, com base em indícios consistentes, que o
grupo político que governa o país é uma “organização criminosa”.
Simultaneamente, o mercado financeiro comemora altas históricas. A Bolsa
de Valores está eufórica com a notícia de que não há a mais remota
chance de a Câmara autorizar o Supremo Tribunal Federal a investigar a
quadrilha que a Procuradoria enxerga no Planalto.
Agarrado
à poltrona, Temer alardeia que o pior da crise já passou. Além da alta
na bolsa, há a inflação baixa, os juros de um dígito e um ambicioso
programa de privatizações —coisa igual não se via há uma década e meia.
Quer dizer: exceto pelos 13 milhões de desempregados que não sabem o que
é Bolsa de Valores, nenhum brasileiro pode deixar de ser otimista.
É
claro que uma delação do Geddel Vieira Lima pode reverter o otimismo.
Mas, por ora, ninguém parece se importar com o fato de que os
personagens que a Procuradoria denuncia como criminosos são os mesmos
que conduzem, a partir do Planalto, os negócios bilionários do Estado.
Denunciados
junto com Temer, os ministros palacianos Moreira Franco e Eliseu
Padilha têm voz ativa, por exemplo, na venda estatais e na concessão de
aeroportos e rodovias. Mantê-los em posições tão estratégicas sem uma
sentença que os redima é mais ou menos como colocar gato para vigiar
sardinhas. Mas quem se importa?