A Polícia Federal (PF) cruzou as informações prestadas pelo
corretor Lúcio Funaro em delação premiada com movimentações financeiras
de empresas do setor de saúde e constatou que doações a políticos e
pagamentos a Funaro coincidem com o período em que o Congresso discutia
medidas provisórias para a área. O levantamento consta nas investigações
do "quadrilhão" do PMDB da Câmara, denunciado pelo ex-procurador-geral
da República Rodrigo Janot. Os investigadores analisaram dados de três
HDs apreendidos na casa da irmã do delator, Roberta Funaro, e cruzaram
com informações do corretor e de outro colaborador, Nelson Mello,
ex-diretor do grupo Hypermarcas. Em um dos casos analisados pela PF, os
investigadores encontraram indícios de que o peemedebista Manoel Júnior,
vice-prefeito de João Pessoa, atuou em favor das redes Amil e DOr na MP
656 de 2014. A medida tratava da abertura de capital estrangeiro para
hospitais e planos de saúde. Júnior propôs três emendas que previam
permissão de capital estrangeiro. O texto original, segundo a PF, não
abordava o tema. Nas planilhas de Funaro, Júnior aparece na movimentação
financeira com o apelido Bob - no codinome "bob-paraíba". Em 2 de
outubro de 2014, conforme a PF, há pagamento de R$ 150 mil em benefício
dele, sendo que R$ 50 mil foram pagos no escritório de Funaro e o
restante por meio de transferências para contas "bob-paraíba". "Pela
coincidência de datas, tais pagamentos se deram no mesmo período da
proposta da emenda. A abertura para capital estrangeiro trouxe margem de
lucro bilionária a Rede DOr", escreveu a PF. O relatório aponta ainda
doações da Amil a campanhas de candidatos do PMDB em 2014, no valor de
R$ 12 milhões, entre eles o deputado cassado Eduardo Cunha (RJ). O
documento mostra ainda a movimentação de parlamentares em favor da
Hypermarcas, como a emenda que incluiu a permissão de comercialização de
remédios que não precisam de prescrição médica em supermercados. A
emenda foi incluída pelo ex-deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) em medida
provisória que tinha objetivo de isentar a cobrança de PIS e Cofins de
produtos a pessoas com deficiência. Cunha também teria atuado em favor
da empresa, segundo Funaro. No entanto, a então presidente Dilma
Rousseff vetou parcialmente a MP sob alegação de que a mudança
"dificultaria o controle" da comercialização e poderia "estimular a
automedicação". Funaro disse que houve o veto porque Nelson Mello não
conseguiu acerto com a Anvisa. Em nota, a Rede DOr afirmou que não foi
beneficiada com a MP. A aprovação, segundo a empresa, "possibilitou a
entrada no mercado de fundos estrangeiros, impactando negativamente a
estratégia" da companhia. A Amil disse que "cumpriu as regras que
orientam as doações para campanhas e vai cooperar no que for
solicitada". Por meio de nota, a Hypermarcas disse que já se "manifestou
publicamente em diversas ocasiões para prestar esclarecimentos
relacionados à atuação de seu ex-diretor de Relações Institucionais
Nelson Mello". O advogado Délio Lins e Silva Júnior disse que a atuação
parlamentar de Cunha "sempre se deu dentro dos limites legais". Sandro
Mabel não foi localizado. Manoel Júnior não respondeu aos contatos da
reportagem.