O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confessou ter
se sentido traído ao descobrir a participação do procurador Ângelo
Goulart nos esquemas de corrupção elaborados pelos executivos da JBS. O
procurador da República foi preso na Operação Patmos, ao ser citado nas
gravações de Joesley Batista, sócio do grupo. Em entrevista ao Correio
Braziliense, Janot disse que o sentimento que dá é o de perfídia,
expressão militar que reflete a sensação de quando um sujeito do grupo o
vende para o inimigo. "Ele passa a ajudar o inimigo a te dar tiro. Esse
é o sentimento que deu na gente. A situação é muito ruim, sentir que
contaminou", disse o ex-procurador. Janot contou que vomitou quatro
vezes ao tomar conhecimento dos fatos relacionados a Goulart, embora
eles não tivessem trabalhado juntos. Segundo Janot, Goulart trabalhava
no eleitoral e, ao fim do mandato, foi designado à força-tarefa da
Operação Greenfield, da PRDF. Janot foi questionado sobre os ataques que
passou a sofrer depois do acordo de delação firmado com a JBS, ao que
ele avaliou como "necessidade de desconstituir a figura do acusador".
"Quando o fato é chapado, quando o fato é mala voando, são R$ 51 milhões
dentro de apartamento, gente carregando mala de dinheiro na rua de São
Paulo, gravação dizendo 1tem que manter isso, viu?1, há uma dificuldade
natural para elaborar defesa técnica nesses questionamentos jurídicos. E
uma das estratégias de defesa é tentar desconstruir a figura do
acusador", explicou. Na estimativa de Janot, a pressão irá aumentar
daqui pra frente, inclusive, com a tentativa de usar o ex-procurador
Marcello Miller contra si - ele teria ajudado a JBS a fechar delação
premiada quando ainda estava na PGR. Janot deixou a PGR no último
domingo (17), após quatro anos à frente do órgão. Quem assumiu seu
lugar, na segunda (18), foi Raquel Dodge. O ex-procurador-geral reclama
não ter sido convidado. "Meu mandato terminou domingo, dia 17, até lá eu
era procurador-geral. Perguntei se queriam uma transmissão de cargo,
mas me informaram que eu não posso transmitir aquilo que eu não tenho
mais (...) Outro detalhe: também não tinha lugar reservado para mim no
auditório, não. Eu teria que chegar e bater a cabeça para achar uma
cadeirinha", explicou. E ainda que tivesse sido convidado, Janot disse
que não seria constrangimento sentar à mesa com pessoas que denunciou,
como o presidente Michel Temer, já que ele estari aem casa.