A dois dias de entregar o cargo de procurador-geral da República,
Rodrigo Janot apresentou, ontem, uma segunda denúncia contra o
presidente Michel Temer (PMDB) ao Supremo Tribunal Federal (STF) –
acusando-o de integrar o “quadrilhão do PMDB”. A denúncia foi baseada
em inquérito aberto pelo STF para investigar o peemedebista por
corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa, e em elementos
da delação do corretor Lúcio Funaro.
Na sexta-feira passada, Janot denunciou políticos do PMDB pela
formação de organização criminosa. São alvos da denúncia os senadores
Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL), Romero
Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), além dos ex-senadores José Sarney e
Sérgio Machado – acusados de controlar nomeações de diretorias da
Petrobras em troca de propina que chegou a R$ 864 milhões, além de terem
causado um prejuízo de R$ 5,5 bilhões à estatal e de R$ 113 milhões à
Transpetro.
Outra vertente do procurador-geral é a bancada do PMDB na Câmara: os
deputados são acusados de terem recebido pelo menos R$ 350 milhões no
esquema de corrupção da Petrobras. O alvo direto nesse caso também é
Michel Temer, apontado como o líder da bancada, formada por seus
principais aliados. De acordo com aliados do presidente, assim que a
denúncia for apresentada ao STF, Michel Temer fará um pronunciamento
político. A ideia é repetir a tese de que Lúcio Funaro mente e não
merece credibilidade, assim como as gravações dos empresários da JBS.
Janot também deve ser alvo, em razão da divulgação de uma foto em que
ele aparece sentado à mesa em um bar de Brasília ao lado do advogado
Pierpaolo Bottini, que atua para a JBS. Temer repetirá, com essa
estratégia, o que fez por ocasião da primeira denúncia contra ele. No
fim de junho, ele afirmou que a acusação era uma "ilação" da
Procuradoria e mirou no ex-procurador da República Marcelo Miller, que
auxiliava Janot e teve um pedido de prisão negado pelo Supremo, dizendo
que recebera "milhões" para sair do Ministério Público e trabalhar na
defesa do frigorífico JBS.
DERRROTAS– No campo jurídico, Temer sofreu duas
derrotas no STF: a Corte rejeitou declarar como suspeito o
procurador-geral Rodrigo Janot e adiou para a semana que vem a suspensão
de uma eventual segunda denúncia. Com isso, a Justiça deixou aberta uma
janela para que Janot denuncie Temer novamente antes do fim de seu
mandato na PGR. Temer participa da solenidade de posse da nova
procuradora-geral, Raquel Dogde, na manhã da próxima segunda-feira,
antes de viajar para os Estados Unidos. Assessores de Temer dizem
acreditar que Janot tentará vincular as declarações de Funaro a de
outros delatores para acusar Temer de atuar, de forma contínua, em uma
organização criminosa.