Vinicius Torres Freire - Folha de S.Paulo
João
Doria desinflou. Não tanto quanto o preço de batatas e feijões, que
baixou quase 50% em um ano, animando os sonhos de supremo poder de
Henrique Meirelles, a flor de candidato deste início de primavera. Mas o
prefeito de São Paulo murchou um tanto.
Ironia
à parte, o desencanto precoce com Doria reanima a feira de
candidaturas: um ex-ministro do Supremo, o ministro da Fazenda ou
qualquer um que queira ao menos fazer nome em eleição nacional e faturar
a lembrança em disputas futuras.
Doria
brotou rápido, no Carnaval. Nos 15 dias finais de fevereiro, passou de
rumor em festas de ricos a nome para bater Lula. Não tinha dois meses de
prefeitura.
Mas
o prefeito não disparou nas pesquisas. Na prática, anda empatado com
Geraldo Alckmin, que é carne de pescoço e resistiu à onda de deslumbre
doriano. Tem máquina e 40 anos de política. Ao fim do mandato, terá sido
governador por quase 14 anos, uma Angela Merkel do conservadorismo
paulista, mal comparando.
A novidade lustrosa de Doria embaçou ainda com as primeiras
críticas, em parte derivadas da superexposição, de brigas desnecessárias, descaso com a cidade e
outras viagens.
críticas, em parte derivadas da superexposição, de brigas desnecessárias, descaso com a cidade e
outras viagens.
Certa
elite também ficou mal impressionada com Doria por sua insciência de
políticas públicas e de problemas brasileiros; com seu destrambelhamento
na política. É opinião minoritária, de gente porém relevante, de raros
ricos que se ocupam de fato de assuntos nacionais.
Doria
talvez apenas padeça de expectativas exageradas. Seu fã-clube entre
ricos despolitizados ainda é forte. Na semana passada, levou a cúpula do
DEM para jantar. Até dezembro, data das convenções do PSDB, vai brigar
pela candidatura, ainda que seja improvável sua desfiliação caso perca.
Enfim, sua falta de estofo logo deixaria de ser empecilho notável caso
fosse o remédio para Lula. Mas a candidatura do ex-presidente definha.
Sem
Lula e sem candidato que desponte nas pesquisas, o jogo muda. O
desnorteio presidiário do PMDB colabora para a confusão, assim como o
renascimento do DEM, quase defunto nos anos petistas. As porteiras das
candidaturas ficam abertas. Por isso também políticos começam a pensar
no teste da hipótese Meirelles.
Sim,
a fase é de testes. PMDB, DEM e Centrão estão na feira, não sabem ainda
se para comprar ou vender. Candidatos visitam os partidos de fato
maiores do país. Isto é, cortejam ruralistas, por exemplo. Tentam
arranjar base eleitoral entre evangélicos, como Meirelles, mas não só.
Apresentam
credenciais de reformista-mor a empresários, que no entanto são muitos
grupos e ainda mais carentes de lideranças, pois várias se recolheram,
avariadas por operações da polícia ou com medo de se misturar no rolo. A
CNI é diferente da carcomida Fiesp, ambas diferentes da finança, que
por sua vez é mais ponderada nos bancos maiores.
Pesquisas
mais recentes mostram o óbvio, o povo ainda à procura de um "outro",
descrente de mudança política, mais pessimista com a economia que a
minoria mais remediada e com má opinião sobre reformas. Daqui a seis
meses, época de definição de candidaturas, o mal-estar econômico será
menor, mas daí não se pode tirar conclusão alguma sobre o estado de
simpatias do eleitorado.