sábado, 9 de setembro de 2017

Delações premiadas ajudaram a recuperar R$ 14 bilhões


ÉPOCA mapeou 285 acordos que envolvem desde os grandes esquemas da Lava Jato até desvios em prefeituras no Agreste de Alagoas



Biscoito e suco em pó. Essa foi a principal refeição servida durante quase dois anos em escolas municipais de Traipu, cidade de  28 mil habitantes encravada no Agreste e no Sertão do estado de Alagoas. Bastou pouco tempo para que aumentasse os casos de desnutrição, já que a “merenda” servida no intervalo das aulas costuma ser a principal refeição do dia para a maior parte dos 4 mil estudantes do município. O ano era 2009.
A situação começou a mudar na manhã de 30 de março de 2011, quando a primeira-dama do município, Juliana Kummer, e o secretário de Administração, Francisco Albuquerque dos Santos, foram presos pela Polícia Federal na Operação Mascotch, que revelou um esquema criminoso organizado entre empresas e autoridades públicas para desviar recursos federais destinados à aquisição de merenda escolar.
A operação foi um desdobramento da Operação Caetés, investigação iniciada em 2010 pela Polícia Federal em Alagoas que efetuou prisões temporárias, além de buscas e apreensões, em nove municípios do estado. A partir da operação, os investigadores se depararam com a oportunidade de avançar sobre o esquema, que envolvia muito mais cidades e empresas, por meio da colaboração premiada de um dos empresários envolvidos.
Com a confissão dos crimes e a indicação de como era a engrenagem da corrupção, descobriu-se que o dinheiro desviado da merenda escolar era utilizado para o pagamento de compras pessoais dos envolvidos e que as autoridades de Traipu e outros municípios estavam implicadas.
O dinheiro que caía no bolso da quadrilha foi usado até a aquisição de uísque 12 anos, caixas de vinho, ração para cachorro e as mais variadas despesas pessoais do grupo. Todos os produtos eram comprados em supermercados que fraudavam licitações para ficar com a distribuição de merenda nas escolas das cidades. O dinheiro era descontado da verba encaminhada pelo Governo Federal. A Controladoria-Geral da União (CGU) aponta indícios de desvio de R$ 8,2 milhões de recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Transporte Escolar, entre 2007 e 2009. Pelo menos 13 licitações foram fraudadas.
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