O advogado Willer Tomaz, 36, que chegou a
ser preso em decorrência da delação da JBS, aponta contradições entre
Joesley Batista, dono da empresa, e Francisco de Assis e Silva, diretor
jurídico. Acusado de pagar propina ao procurador Ângelo Goulart Villela
para repassar informação privilegiada a Joesley, Tomaz se diz vítima de
armação.
Ele recebeu a reportagem em seu
escritório, em Brasília, mas optou por responder as perguntas por
e-mail. O advogado não quis falar sobre o procurador-geral Rodrigo
Janot. O grupo J&F (que controla a JBS), em nota, negou que
delatores tenham mentido e reiterou o que foi dito no acordo.
PERGUNTA - Como se defende da acusação de que repassou propina para Goulart?
WILLER TOMAZ - A minha casa e o meu
escritório foram devassados. Tive ligações interceptadas e não há uma
prova ou conversa que trate de repasses ilícitos. Pelo contrário, a
Polícia Federal deixou de fazer menção a uma conversa importantíssima
que tive com o diretor jurídico da Eldorado, em que faço menção expressa
a pedidos indecorosos de Francisco que eu, de pronto, não aceitei.
A minha relação com Francisco ficou
bastante abalada após ele ter solicitado um jantar com um magistrado
[Ricardo Leite]. Esse encontro nunca ocorreu e hoje percebo que a
intenção de Francisco era envolver [na delação] um membro do Judiciário.
Ele agiu de má-fé, foi desleal e mentiroso. Foi justamente o fato de
não ter aceito os pedidos antirrepublicanos que levou à quebra do
contrato firmado entre o meu escritório e a Eldorado Brasil Celulose.
P - Vê problemas na delação?
WT - As mentiras contadas por Joesley e
Francisco são tão grosseiras que os próprios delatores entraram em
contradição. Em depoimentos em junho ao MPF, Joesley e Francisco
desmentiram o que delataram à PGR em maio.
Joesley, mais recentemente, afirmou que
não sabe dizer se é verdade que eu pagava algum valor a Ângelo Goulart.
De outro lado, Francisco se retratou do que havia dito antes à PGR e
afirmou, no novo depoimento, que soube que eu teria dito que pagava R$
50 mil a Ângelo, mas que não lembra se isso teria sido dito por mim ou
por Joesley.
Ou seja, nem os delatores hoje afirmam com certeza ter existido a propina a Goulart.
Posso dizer com certeza que não há prova
de entrega de valor, por mim, ao Ângelo. Jamais paguei um único centavo a
um membro do MPF.
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P - Como afetou sua vida?
WT - Por conta de depoimentos iniciais
mentirosos, fui preso por 75 dias; fui humilhado, execrado, tive a minha
reputação arruinada e a minha família está vivendo um verdadeiro
martírio. Fui tachado de lobista, como se nunca tivesse atuado,
devidamente constituído, nos autos em favor da Eldorado.
P - O sr. foi contratado pela Eldorado.
Por que se dispôs a intermediar o contato de Goulart, Francisco e
Joesley sobre delação se isso não estava no escopo de seu contrato?
WT - Francisco se queixava da perseguição
[do procurador Anselmo Lopes, da Operação Greenfield] e me pediu, no meu
escritório, para que houvesse a realização de um novo acordo com um
outro membro da Greenfield. Apresentei Ângelo de boa-fé. Sempre fui um
advogado leal aos meus clientes, fiz isso para ajudá-los.
P - Por que mostrou a Joesley o áudio da reunião da Greenfield com Mário Celso [ex-sócio do empresário]?
WT - Ângelo percebeu que, se as tratativas
dos executivos da J&F não avançassem, Mário Celso poderia chegar
primeiro na corrida pela delação. Como forma de apressar o acordo com a
J&F, Ângelo fez chegar a mim a gravação da oitiva de Mario Celso,
realizada de forma informal, sem advogado. No áudio, percebe-se que o
MPF pressionou Mário Celso. Queriam que Mário Celso entregasse Joesley. O
acesso à gravação não impediu nenhuma diligência. Não havia nada ali
que não pudesse ser acessado pelo advogado da Eldorado, com procuração
nos autos. Não há fundamento legal para tratar o acesso que tive a esse
áudio como crime. Com informações da Folhapress.