O Presidente Michel Temer acusará Janot de tentar condená-lo sem provas
Folha de S. Paulo
Gustavo Uribe, Marina Dias e Bruno Bughossian
Na tentativa de barrar a denúncia contra ele,
o presidente Michel Temer partirá para o enfrentamento direto com o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusando-o de tentar
condená-lo sem provas.
Em
reunião na noite de segunda-feira (26), no Palácio do Planalto, o
peemedebista traçou com ministros e parlamentares estratégia de reação
tanto política como jurídica contra a denúncia que pode afastá-lo do
cargo.
O
discurso que foi estruturado e será reproduzido em defesa do presidente
é de que o procurador-geral atua contra a classe política em geral e
que faz conclusões que não se sustentam pelos fatos.
O
principal ponto da denúncia que será contestado é a associação direta
do peemedebista com a mala de R$ 500 mil recebida da JBS pelo
ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures, um dos maiores aliados do
presidente.
O
argumento central é que o dinheiro ficou com o ex-auxiliar presidencial
e que, portanto, não é possível provar que o presidente seria o
beneficiário do montante.
Com
o desmembramento da denúncia e apresentação a conta gotas, o Palácio do
Planalto acusará o procurador-geral de atuar de maneira parcial, com o
único objetivo de desgastar a imagem do presidente e prolongar a crise
política, afetando a recuperação econômica do país.
Nas
palavras de um assessor presidencial, o discurso será de que, por
motivações pessoais, o procurador-geral prejudica o país e atua em uma
cruzada política contra o peemedebista.
A
conclusão em reunião no gabinete presidencial foi de que, apesar de o
conteúdo da denúncia ter sido dentro do esperado, ela deprecia a imagem
do presidente. Para o Palácio do Planalto, agora, é preciso avaliar o
impacto dela junto à opinião pública e como ela será assimilada pela
população em geral.
Para
evitar que haja contaminação política com o tema, o presidente ordenou
que a resposta para a denúncia seja feita exclusivamente pela sua equipe
de advogados. Ele acredita que, caso consiga barrar as denúncias no
Congresso Nacional, terá condições de sobreviver à atual crise política.
O
tom beligerante contra a PGR (Procuradoria-geral da República) já foi
adotado pelo presidente na manhã desta segunda-feira (26). Em discurso,
ele disse que nada o destruirá e ressaltou que "não há plano B" no país.
"Ninguém
duvide, nossa agenda de modernização do Brasil é a mais ambiciosa de
muito tempo. Tem sido implementada com disciplina e com sentido de
missão. Não há plano B. Há de seguir adiante. Nada nos destruirá. Nem a
mim, nem aos nossos ministros", disse.
A
ideia do presidente é tentar barrar já na primeira quinzena de julho a
denúncia contra ele. Além de abreviar prazos na CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça), o Palácio do Planalto pretende garantir a
nomeação de um relator próximo à gestão peemedebista e um placar folgado
já na comissão parlamentar pela recusa da denúncia.
Além
disso, a gestão peemedebista defende substituições entre titulares e
suplentes na CCJ para garantir a presença de parlamentares combativos
que defendam insistentemente o presidente em discursos e discussões.
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A ACUSAÇÃO DE JANOT
O que diz o procurador-geral em 60 páginas de denúncia contra Temer
O que diz Janot:
- Temer foi o destinatário real da propina de R$ 500 mil paga em uma mala pela JBS ao ex-assessor Rodrigo Rocha Loures
- O presidente também aceitou uma promessa de R$ 38 milhões de vantagem indevida a ser pago em parcelas semanais
- Em troca, Rocha Loures ajudaria a solucionar uma demanda de interesse da empresa no Cade
-
PGR diz haver "provas abundantes": entre elas, a delação de sete
executivos da JBS, o áudio gravado por Joesley no Palácio do Jaburu, a
indicação de Loures para resolver qualquer pendência e a filmagem de
Loures correndo com a mala de R$ 500 mil
- Procurador utiliza perícia da PF que atesta que não houve nenhuma edição nos áudios
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Temer se contradisse em duas ocasiões: ao explicar o motivo pelo qual
recebeu Joesley e a razão para ter viajado em 2011 no jatinho do
empresário
O que a PGR pede:
- Condenação por corrupção passiva
- Perda da função pública ou mandato eletivo
- Indenização aos cofres públicos de ao menos R$ 10 milhões por Temer e R$ 2 milhões por Loures