Após
decidir não romper com Temer, PSDB avalia danos à imagem do partido.
Depois da decisão da Executiva de permanecer no governo Temer,
lideranças do PSDB avaliam os danos à imagem do partido. O pedido de
desfiliação de Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment de
Dilma, é visto como um problema por alguns caciques
Por Agência Estado
A Executiva
Nacional do PSDB de segunda-feira, que decidiu, em votação simbólica,
não desembarcar do governo de Michel Temer, manteve aberta a divisão da
legenda. Esse incômodo foi explicitado ontem pelo jurista e ex-ministro
da Justiça Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff, que vai se desfiliar do partido. “Eles não
avaliaram que lideranças e simpatizantes do partido se opõem a essa
decisão. O PSDB não atendeu suas bases, cujo eleitoral tem como foco a
ética e a luta contra a corrupção”, reclamou o jurista.
Interlocutores
tucanos reconhecem que as palavras duras de Reale Júnior são péssimas
para a imagem do partido. Embora ele não seja parlamentar — “não tem
votos, tentaram minimizar alguns” —, a verdade é que Reale é muito
respeitado no Sul e Sudeste, especialmente em São Paulo, nascedouro do
partido. E não há como dissociá-lo do processo de impeachment de Dilma,
quando ao lado da advogada Janaína Paschoal, fez a sustentação jurídica
pelo afastamento, tanto na Câmara quanto no Senado. “Não podemos, agora,
virar as costas para alguém que aplaudimos no ano passado”, reconheceu
um cacique do PSDB.
O líder do
PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), reuniu ontem a bancada de
deputados para comunicar a decisão tomada na segunda-feira. Ele evitou
dizer que a legenda vai lutar pelo governo, complementando que o partido
vai “defender o Estado Brasileiro”, mas não acredita que haja um
movimento de debandada do partido por conta das insatisfações internas.
“O PSDB é um partido democrático. A decisão foi democrática e, quando
isso acontece, a minoria se rende à maioria”, complementou Trípoli.
O casamento
entre PSDB e PMDB de Temer, no entanto, tem data para terminar. Em tese,
em abril do ano que vem, quando os ministros-candidatos — Antonio
Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes Ferreira (Relações
Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades) — deixarão os cargos para concorrer
nas eleições de outubro de 2018.
Avaliações
Por
enquanto, o partido acredita que conseguiu controlar a saída de alguns
cabeças-pretas, que defendiam com mais ênfase o desembarque. Como apurou
o Correio na semana passada, o mais suscetível a uma troca de legenda
seria o deputado Daniel Coelho (PE), que se filiou ao PSDB em 2012,
vindo do PV, e conversaria com o PSL. “Tenho muitos amigos no PSL, mas
não estou conversando com ninguém sobre deixar o partido”, disse Coelho.
O deputado
pernambucano elogiou o trabalho feito pelo presidente nacional da
legenda, senador Tasso Jereissati (CE), e pelo líder Ricardo Trípoli
(SP) para tentar manter uma unidade na legenda. Mas não acredita que a
reunião da Executiva vai calar os insatisfeitos. “Como foi uma reunião
simbólica, sem votação nominal, aqueles que defendem o desembarque
continuarão defendendo”, apostou Daniel Coelho.
Esse
incômodo também é percebido por Tasso Jereissati, que confirmou, ontem,
ter sido voto vencido na decisão quanto à permanência do partido no
governo. Durante a tensa reunião da Executiva, na segunda-feira, Tasso
afirmou que a sigla vive o momento mais difícil de sua história e
lembrou a postura adotada pelo PSDB em 1992, quando o partido decidiu
não integrar o governo Collor, que vivia seus estertores. “Nós estamos
virando as costas para nossa própria história e perdendo o respeito
perante a opinião púb
O partido também decidiu que vai recorrer, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), da decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de absolver a chapa Dilma-Temer. É preciso antes, no entanto, aguardar a publicação do acórdão do julgamento, o que só deve ocorrer no fim do mês. Para alguns, parece incongruência manter o apoio ao governo e recorrer contra a absolvição doTSE.
O partido também decidiu que vai recorrer, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), da decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de absolver a chapa Dilma-Temer. É preciso antes, no entanto, aguardar a publicação do acórdão do julgamento, o que só deve ocorrer no fim do mês. Para alguns, parece incongruência manter o apoio ao governo e recorrer contra a absolvição doTSE.
A explicação
é que a história acabou empurrando o PSDB para essa incongruência. “Nós
não votamos neste governo, não votamos no PT e no PMDB. Achávamos que
existiam fatos graves que ajudaram a eleger essa chapa e esses fatos
foram comprovados”, explicou o deputado Nárcio Rodrigues (MG).
Mas ele
mesmo lembrou que o partido não poderia virar as costas para a grave
crise econômica vivida pelo país. “Não podemos esquecer que temos 15
milhões de desempregados no país. Não podemos virar as costas para essa
realidade por conta de um projeto de poder para 2018”, completou o
deputado mineiro.