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O Globo
Num dos mais fortes discursos desde o início de sua gestão, o 
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusou o ministro Gilmar 
Mendes, do Supremo Tribunal Federal, de sofrer de decrepitude moral e 
disenteria verbal. As críticas de Janot foram feitas nesta quarta-feira 
em resposta à acusação do ministro de que procuradores teriam convocado 
uma entrevista coletiva em off na semana passada para vazar os nomes dos
 políticos suspeitos de receber propina da Odebrecht.
Para Janot, o ministro preferiu direcionar os ataques ao Ministério 
Público e omitiu, de forma deliberada, as menções ao uso do off no 
Palácio, no Congresso e no STF. Para o procurador-geral, a seletividade 
da crítica teria como propósito da deslegitimação das investigações 
sobre a corrupção no meio político.
“Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se 
pronunciar sobre essa imputação do Palácio do Planalto, Congresso 
Nacional e Supremo Tribunal Federal. Só posso atribuir tal ideia a 
mentes ociosas e dadas a devaneios. Mas, infelizmente, com meios para 
distorcer fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional”, 
disse Janot em discurso de encerramento de encontro de procuradores 
regionais eleitorais na Escola Superior do Ministério Público.
Janot não mencionou o nome de Mendes, mas fez uma série de 
referências que não deixam dúvidas sobre o alvo de suas críticas. As 
informações sobre a suposta coletiva foram divulgadas pela “Folha de 
S.Paulo” no último domingo e replicadas por Mendes na tarde de 
terça-feira. Ao falar sobre o suposto vazamento dos nomes de políticos 
da lista de Janot, o jornal fez referências à prática do off no Palácio 
do Planalto, no Congresso Nacional e no STF.
Janot disse ainda que a informação de que houve uma coletiva para a 
divulgação de uma lista de políticos investigados é mentirosa. O 
procurador-geral insinuou também que Mendes estaria tentando nivelar 
todas as autoridades, atribuindo aos procuradores conduta que, na 
prática, seria dele: chamar jornalistas para conversas reservadas e, com
 isso, divulgar informações sigilosas. Para o procurador-geral, o 
ministro estaria sofrendo de decrepitude.
“Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar 
todos a sua decrepitude moral e para isso acusam-nos de condutas que 
lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes, da aparente 
intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado”, 
afirmou.
O procurador reprovou ainda suposta conduta promíscua de Mendes, que 
estaria participando com frequência de jantares no Palácio do Planalto. O
 ministro é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde 
tramita processo sobre supostas irregularidades na prestação de contas 
da chama Dilma-Temer na campanha eleitoral de 2014.
“Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos 
círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder público e
 repudiamos a relação promíscua com a imprensa”, disse Janot.
