Os integrantes da base aliada que votaram contra a aprovação do
projeto de emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento dos
gastos públicos devem ser punidos pelo governo. Apesar de o discurso
oficial não falar em retaliação, o Planalto já elabora um mapa dos
"traidores" que podem ser punidos com retirada de cargos, emendas e
diminuição de espaço no governo, de acordo com interlocutores do
presidente. A ameaça de represália do governo chegou a lideranças da
Câmara com o recado de que os deputados serão tratados "de forma
proporcional ao voto". A avaliação no Planalto é de que cerca de 15
deputados precisam dar justificativas para terem se ausentado ou votado
contra o governo, já que o próprio Temer se envolveu pessoalmente nas
negociações para aprovar a PEC que pretende tornar uma "marca e um
legado" de seu governo. "Não podemos fingir que nada aconteceu, pois
essa era 'a votação', a marca e o símbolo do governo", observou um
interlocutor. Ao aproveitar o embalo da aprovação do projeto, com
expressivo placar, a equipe de Temer vai cobrar coesão da base aliada a
fim de tentar acelerar a agenda de votações de interesse do Palácio do
Planalto no Congresso. O discurso é de que os aliados precisam estar
afinados com o governo para se preparar para a "batalha" da reforma da
Previdência, considerada a mais polêmica delas. Nessa negociação, o
Planalto pretende também agradar os que votaram a favor, acelerando
nomeações de apadrinhados dos parlamentares. A avaliação de aliados do
presidente é que, por mexer diretamente com a vida do cidadão, haverá
uma resistência maior às mudanças na Previdência, que têm de andar até o
final do próximo ano, sob pena de naufragar em 2018, ano eleitoral. A
oposição no Congresso, desarticulada na discussão da PEC do Teto, também
se prepara para um embate mais duro em relação a essas mudanças. O
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que Temer vai conversar
com parlamentares que não votaram com o governo na PEC. "O presidente
Michel Temer disse que haverá uma 'DR' com que não tem teve condições de
acompanhar o governo ontem (anteontem)", disse. Um dos principais
interlocutores do Planalto no Congresso, o presidente do PMDB, senador
Romero Jucá (RR), defende que haja "nitidez e transparência" dos
integrantes da base na defesa das propostas do Planalto. "Quem não
votou, vai ter de se explicar, queremos ter nitidez política e base
unida. Base desunida não adianta", avisou. Jucá reconheceu que, mesmo
com a vitória folgada na PEC do Teto, é preciso a partir de agora
fortalecer o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima,
principal responsável por receber e despachar as demandas dos
parlamentares. "O governo ainda está em fase de montagem", ressalvou
Jucá ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo
Estado. Após um corpo a corpo pessoal de Temer na véspera, o primeiro
turno da PEC do Teto foi aprovado anteontem com 58 votos a mais que o
mínimo necessário: 366 a favor, 111 contra e duas abstenções. Ainda
haverá uma nova rodada de votação na Câmara e outras duas votações no
Senado, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário. O
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que já está
atuando "pessoalmente" para aprovar a medida na Casa que comanda. "Ou
votamos essa PEC, ou vamos ter de aumentar impostos, e a sociedade não
aguenta mais isso", disse. As informações são do jornal Estado de S. Paulo.