Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
O empreiteiro Flávio Barra, ligado à Andrade Gutierrez, declarou ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que repassou propina de R$ 5,6 milhões
ao senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia do
governo Dilma, sobre as obras da Usina de Angra 3 e da Usina de Belo
Monte. O executivo prestou depoimento em setembro na investigação
judicial eleitoral aberta contra a chapa presidencial encabeçada por
Dilma Rousseff (PT) e por seu vice Michel Temer (PMDB). Barra declarou
que entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões em propina foram repassados ao
peemedebista por Angra 3 e R$ 600 mil por Belo Monte. Ex-presidente da
Andrade Gutierrez Energia e delator da Operação Lava Jato, Barra
declarou que deixou R$ 600 mil em espécie na casa de um filho do senador
peemedebista, que identificou como Márcio Lobão. Frente o
corregedor-geral Eleitoral Herman Benjamin - também ministro do Superior
Tribunal de Justiça - e o juiz auxiliar Bruno Cesar Lorencini, o
empreiteiro declarou que a propina em Belo Monte era de 0,5% para o PT e
0,5% para o PMDB - porcentual sobre o valor do contrato. O delator da
Lava Jato foi questionado pelo juiz auxiliar se houve 'pagamento por
fora' em Belo Monte. "Não, não. Houve um único pagamento, eu menciono
isso nos meus depoimentos, que na época não era um ano eleitoral, nós
não podíamos fazer, enfim, um valor de R$ 600 mil, se não me engano, que
foi entregue ao ministro Lobão. Mas foi a exceção. Não existiam outros
pagamentos. Eram sempre nos períodos eleitorais, destinados aos
partidos", afirmou. O juiz auxiliar Bruno Cesar Lorencini quis saber de
Flávio Barra como os R$ 600 mil foram repassados para o PMDB. Ele
declarou ter repassado o valor 'em espécie', mas que 'não tinha
disponibilidade pra entregá-lo em Brasília'. "Então, nós combinamos,
então nós fizemos essa entrega na casa do filho do ministro Lobão, no
Rio de Janeiro", declarou Barra. "Márcio. Márcio Lobão", completou. De
acordo com o delator da Lava Jato, também houve divisão de porcentual de
propina sobre os contratos de Angra 3: para o PMDB 2%,, para o PT 1% e,
em torno de 1,5%, distribuído entre executivos da Eletronuclear. Barra
relatou que 'existiam dois interlocutores principais', Edison Lobão pelo
PMDB e o ex-tesoureiro João Vaccari pelo PT, 'mas que manteve contato
ainda com o senador Romero Jucá (PMDB-RR)'. "Com relação ao PT, eu nunca
mencionei esse contrato com o senhor João Vaccari, apesar de ter
contato com ele, porque já vinha sido mantida uma relação com a área
institucional da empresa. Então, a gente manteve essa interlocução até
para não prejudicar, não envolver mais gente. Da mesma forma, existia
uma parte desse compromisso com o PMDB, em relação ao senador Romero
Jucá, que também foi mantida a interlocução através da área
institucional, até porque eu, na condição de um técnico ou comercial da
empresa, atuando especificamente em energia…", registrou o delator. "Se
nós dividirmos em três componentes, ministro Edison Lobão, senador
Romero Jucá e PT, seriam três parcelas de 1%. Eu me responsabilizei
especificamente pelo ministro Lobão, nesse período, devo ter feito
alguma coisa em torno de 4 milhões só para o ministro Lobão - de 4 a 4,5
a 5 milhões", contou. O ministro Herman Benjamin questionou Barra sobre
os 2% do PMDB. "Os interlocutores eram, como eu disse, o ministro
Edison Lobão e o senador Romero Jucá. O senador Romero Jucá, até por ser
da área política, era tratado, ou tinha como interlocutores o pessoal
dessa área institucional da empresa. O ministro Edison Lobão, por ser o
comandante de uma Pasta executiva, que dizia respeito à minha área, me
foi apresentado tempos antes, se não me engano em 2009. E eu tinha uma
relação e mantive essa relação e, quando o assunto Angra veio para mim,
eu me reportava a ele com relação ao andamento desse compromisso",
revelou. A reportagem ligou para o número de telefone da Coutinho e
Coutinho Advogados que consta do site da Ordem dos Advogados do Brasil
do Maranhão (OAB-MA). Ninguém atendeu. O criminalista Antonio Carlos de
Almeida Castro, o Kakai, disse, em resposta, que Flávio Barra realmente
frequentava a casa do filho do senador Lobão, "porque eram amigos". "Mas
agora surpreendeu, não se sabe em que condições nessa delação, ao fazer
essas afirmativas." Diz que Lobão nega "peremptoriamente" ter recebido
"qualquer coisa dele". "Ele está se aproveitando de uma relação pessoal
que tinha para poder criar uma história na delação que de certa forma o
proteja. Ele nega peremptoriamente", reforça. Já o senador Romero Jucá,
diz não ter mantido "nenhum entendimento sobre obras em Belo Monte nem
com o senhor Flavio Barra nem com qualquer outra pessoa".