A presidente Dilma não está jogando a tolha por acaso. A tese da
renúncia, antecipada ontem pelo jornal O Globo, não tem nada de espírito
público nem ela está preocupada em buscar uma saída para a crise que o
País enfrenta. Na verdade, é uma jogada política. Foi o ex-presidente
Lula que botou na cabeça dela.
Antecipar eleição a esta altura, com o impeachment da presidente em
processo irreversível no Senado, só interessa a Dilma, a Lula e ao PT.
Mesmo envolvido na Lava Jato e correndo o risco de ser preso a qualquer
momento, o ex-presidente acha que ainda é a bala que matou Kenedy, ou
seja, que continua blindado. Mas os tempos são outros. Ele ainda aparece
bem nas pesquisas por falta de uma liderança nacional competitiva.
Mas ao longo da campanha, se resistir à espádua implacável do juiz
Sérgio Moro, despenca e não se elege. O País cansou de ser enganado.
Lula é, hoje, um homem rico, que engana o pobre e os “trouxas” com um
discurso mentiroso e populista. Renunciando, Dilma coloca nas ruas a
candidatura de Lula no dia seguinte.
Mas a sua tese não prospera, porque a Constituição diz que a vacância
do cargo se configura mediante também a renúncia do vice. Michel Temer
não é bobo, não vai cair nunca nesta armadilha. Dilma, Lula e o PT, se
isso não fosse suficiente, precisam entender que perderam a força que
tinham no Congresso. A era petista acabou. Para se aprovar uma PEC
antecipando as eleições, como proporia Dilma em sua fala, são precisos
dois terços dos votos na Câmara.
O Governo só tem hoje 137 votos, tamanho do placar do impeachment na
Câmara, aprovado por 367 votos. Com uma base tão fragilizada e
insignificante, não consegue aprovar mais nem sequer voto de aplauso
quanto mais uma PEC de impacto, como antecipação de eleição. Isso é
resultado de uma gestão claudicante, que levou o País à beira do abismo,
jogando 11 milhões de trabalhadores na rua da amargura.
De acordo com a última pesquisa do Datafolha, 68% dos brasileiros
apoiam a destituição de Dilma. A presidenta tem muitos elementos contra
ela: uma Câmara hostil, índices de popularidade mínimos, protestos
contra o PT, uma economia em baixa e, como se não bastasse, o vendaval
do caso Petrobras. A investigação de corrupção na petrolífera estatal
atinge seu predecessor Lula, que ela mesma tentou nomear ministro, mas a
justiça não permitiu. Para o bem do País!
LÍDER DESMENTE – O líder do Governo no Senado,
Humberto Costa (PT), negou, ontem, em São Paulo, onde passou o dia, que a
presidente Dilma venha a fazer um pronunciamento na próxima sexta-feira
para anunciar sua renúncia e ao mesmo tempo encaminhar ao Congresso uma
mensagem propondo a antecipação das eleições presidenciais. “Se ela
vier a anunciar uma PEC – Proposta de Emenda Constitucional – isso se
dará sem a renúncia dela”, diz.