Josias de Souza
O
STF se equipa para analisar denúncias da Procuradoria contra Renan
Calheiros e Eduardo Cunha. Planeja fazê-lo entre o fim deste mês de
fevereiro e os primeiros dias de março. Guiando-se pela lógica, os
ministros da Suprema Corte acolherão as denúncias, convertendo-as em
ações penais. Quando isso acontecer, as duas Casas do Legislativo
brasileiro passarão a ser presididas por excentíssimos réus. E o vexame
se converterá em escárnio.
Renan
e Cunha não pensam em se afastar voluntariamente dos cargos. Seus
poucos rivais não reúnem forças para arrancá-los da poltrona. “Já dei
todas as explicações”, minimizou Renan, ao comentar a denúncia de que
usou verbas de uma empreiteira para pagar a pensão de uma filha que teve
fora do casamento, em 2007. “O fato de aceitar a denúncia não significa
que eu sou condenado”, deu de ombros Cunha, ao se referir às evidências
de que recebeu petropropinas. “Vou continuar em qualquer
circunstância.”
Os
mandachuvas do Legislativo são protótipos do patrimonialismo
brasileiro. Ambos trazem implantada na alma a convicção de que não é o
Congresso que tem um par de presidentes; são os presidentes do Senado e
da Câmara que têm o Congresso. Os dois não se sentem como pessoas
públicas. O país é que atrapalha suas vidas privadas.
Renan
e Cunha são como o Aedes aegypt. Desenvolveram-se nas águas paradas do
Congresso. Sugaram o sangue do Tesouro Nacional. E transmitem um vírus
que causa microcefalia coletiva em seus pares, desobrigando-os de
refletir. Os 38 congressistas investigados na Lava Jato —14 senadores e
24 deputados— dão aos outros 556 parlamentares uma péssima fama. Mas a
democracia brasileira ainda não desenvolveu uma vacina capaz de imunizar
o país contra zikas como Renan e Cunha.
