Josias de Souza
Ex-petista, o senador Cristovam Buarque (DF) disse ao blog estar
com saudades do tempo em que Lula o demitiu do posto de ministro da
Educação por telefone. O PDT, sua atual legenda, submete-o a uma
descortesia maior. “Eu tinha a pretensão de disputar a Presidência da
República, mas essa pretensão foi cassada.” Cristovam atribui a
“violência” a Carlos Lupi, presidente do PDT. “O Lupi me rifou
completamente. Ele resolveu que o candidato do partido será Ciro Gomes.
Tenho saudades da demissão por telefone porque, comparada com isso, era
mais digna.”
Depois
de amargar um quatro lugar na corrida presidencial de 2006, atrás de
Lula, Geraldo Alckmin e Heloisa Helena, Cristovam se diz equipado para
2018. “Gostaria de participar. Estou preparado. Tenho proposta. Tenho
viajado pelo país. Estava animado para disputar uma prévia. Mas o Lupi
não permitirá que haja prévia séria no PDT.” A irritação do senador
cresceu depois que ele viu uma entrevista de Ciro na tevê.
“Ciro
disse que não tem vontade de ser presidente nem quer ser candidato.
Declarou que está com uma vida muito boa, que recebe um salário
monstruoso. Na entrevista que assisti, ele disse que não disputaria com
ninguém no PDT. Se o partido quiser pedir para que seja candidato, ele
vai pensar. Se tiver disputa, ele não participa. Nada de prévias.”
Segundo
Cristovam, Lupi transformou o PDT num cartório. “Todos os diretórios
estaduais são nomeados por ele. Não tem eleição interna. Lupi controla
tudo. Ele diz quem vai ser candidato em cada Estado. Tem o poder de
vetar.” A despeito de tudo, Cristovam hesita em mudar de partido.
“Trocar
de legenda é algo muito dolorido. Fica uma marca ruim para quem muda
muito. O próprio Ciro, que já está no sétimo partido, carrega essa
marca. Tem hora que a gente sente que está sendo empurrado para fora do
partido. Eu me sinto sendo empurrado para fora. Não mudaria de partido
para ser candidato. Mudaria se um partido sério quisesse chamar um grupo
de pessoas, inclusive a mim, para disputar qual seria o melhor projeto
para o Brasil.”
Para
Cristovam, a movimentação de Lupi desrespeita a biografia de Leonel
Brizola. “Estou irritado com esse negócio de dizerem que impeachment é
golpe. Não é golpe. Lupi, sim, dá um golpe na história ao comparar-se
com o Brizola da época da campanha da legalidade.”
O
senador prossegue: “A legalidade do Brizola era contra os tanques de
guerra cercando o Congresso. Ele carregava a metralhadora lá no Rio
Grande do Sul. Agora não tem nada disso. Se Lupi levar adiante a ideia
de expulsar do partido quem votar no impeachment, independentemente do
meu voto, estarei com essa pessoa.”