Carlos Chagas
Na
questão do impeachment, não há terceira via nem jeitinho: ou Dilma
consegue 173 votos de deputados, mínimo para mantê-la no poder, ou
Michel assume.
Na
primeira hipótese, Madame precisará reformular suas diretrizes de
governo e mudar o ministério, sabendo não poder contar com os grupos do
PMDB e de outros partidos que terão votado contra ela, mesmo os
hesitantes da base oficial.Caso a votação aconteça em fevereiro, melhor
para a presidente, abrindo-se a oportunidade de inaugurar uma nova fase e
tentar superar a crise econômica. Não vai dar para sugerir a união
nacional. Precisará apoiar-se nas próprias forças, com o PT à frente.
No
reverso da medalha, se tiver sido afastada pela maioria da Câmara e,
depois, condenada pelo Senado, presidido pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal, a presidente sairá da História. Caberá ao vice Miguel
Temer recompor os cacos da louça quebrada, aí sim apelando para a união
nacional. Mesmo os deputados que terão se pronunciado pela permanência
de Dilma serão chamados a participar de um ministério chamado de
“coração de mãe”, onde sempre caberá mais um. Prevê-se que o então novo
presidente apele para a formação de um programa de governo capaz de
reunir o mínimo de opiniões convergentes, missão difícil mas não
impossível. Com certeza o PT ficará de fora, sob a liderança do Lula, já
que Dilma terá mergulhado no esquecimento. Michel, no palácio do
Planalto, não contará com a simpatia da população, mas, ao menos,
receberá uma espécie de moratória positiva, de alguns meses onde ficará
sendo observado. Quebrará a cara, se limitar-se às diretrizes do
documento divulgado dias atrás pelo PMDB, a tal “ponte para o futuro”.
Para governar, necessitará muito mais do que pedir sacrifícios à nação.
No caso, de algum antídoto contra o desemprego, os impostos e a alta do
custo de vida.
Os
dias ou semanas que precedem a votação do impeachment serão tensos e
marcados pelo acirramento dos ânimos. Dilma e o PT contam em receber
mais do que os 172 votos de deputados em favor de sua permanência, mas,
se brincarem em serviço, arriscam-se a ser postos para fora. A opinião
pública não confia no partido nem na presidente, como também olha de
viés para o atual vice-presidente. O produto mais em falta nas
prateleiras do país chama-se “confiança”, que Michel reconheceu não
dispor, seja da parte de Dilma, seja do cidadão comum.
Em
suma, melhor seria que tudo se resolvesse ainda este ano, ou no máximo
nos primeiros dias de janeiro, mas imaginar Suas Excelências abrindo mão
das férias, só por milagre.