Igor Gielow – Folha de S.Paulo
Escrevendo
mais um capítulo de sua antologia filosófica, Dilma Rousseff cravou que
o Brasil não tem de se preocupar com o terrorismo na Olimpíada do Rio,
no ano que vem. "Estamos muito longe", disse a mandatária, que estava
também distante do bom senso.
Dilma,
que já havia sugerido "conversar com o Estado Islâmico" no passado, por
prudência deveria voltar atrás igualmente nesse vaticínio.
Como
colocou o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), o Brasil não tem
histórico de terror –seja em células, seja com "lobos solitários".
Falta
caldo cultural; Foz do Iguaçu não fica na periferia pobre de Paris.
Exceto por algum internauta louco, o EI não tem apelo ideológico aqui.
Teoricamente,
algum terrorista poderia se infiltrar na onda de refugiados sírios
acolhidos, é claro, mas isso é mais facilmente detectável pois não são
massas atravessando a pé a fronteira. De resto, a maioria deles está a
fugir da barbárie.
O
que a área de inteligência sempre monitorou foram os passos de gente
ligada ao Hizbullah libanês, esses sim assíduos frequentadores da
chamada Tríplice Fronteira.
Eles
costumam vir, contudo, para se esconder, em que pese a suspeita de
terem participado do maior ataque por essas bandas, contra uma entidade
judaica argentina em 1994.
Há também pontualmente suspeitas sobre a Al Qaeda, mas novamente falamos de terroristas de passagem.
A
questão que escapou a Dilma é que se há um momento em que o perigo se
coloca é durante os Jogos Olímpicos, evento internacional de máxima
exposição e alvos vulneráveis tentadores politicamente, como Munique-72
deveria fazer recordar.
Além
disso, a fase de ações externas do EI revelou gosto por eventos
esportivos. Com o Congresso titubeando sobre legislação específica e com
cerca de 50% da verba da Defesa para os Jogos em 2014-15 ainda a
gastar, talvez o país esteja brincando com um azar bem próximo.