Isolado, sem o apoio de um único deputado ou senador do PMDB, o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), corre o risco de ser
cassado e perder, consequentemente, o poder que tem hoje. O anúncio da
criação de suas CPIs, tão logo rompeu com o Governo, sexta-feira
passada, está na seara das suas bravatas.
Não tem força nem o poder de articulação quanto antes, quando se
elegeu presidente da Câmara, porque é apontado como toqueiro na operação
Lava Jato, acusado de abocanhar 15 milhões de dólares do esquema
desviado da Petrobras. Cunha leva, ainda, a desvantagem de enfrentar a
sua fase mais difícil pelo esvaziamento do Congresso.
O recesso, que começa hoje, é ruim porque isola ele mais ainda, num
momento em que precisava pelo menos mostrar força, agora mais do que
aparente. Cunha sabe que corre extremo risco de ser deletado da cadeira
que ocupa no Congresso. Para isso, basta que o Supremo, como fez na
semana passada, autorize uma operação que recolha as provas das
acusações que pesam contra ele.
Na semana passada, antes mesmo de Cunha anunciar formalmente o
rompimento com o Governo, o deputado Jarbas Vasconcelos o acusou de
ditador e falastrão, além de oportunista. Disse que só votou nele para
presidente da Câmara para derrotar o PT e, naturalmente, o Governo, a
que se opõe de forma radical.
Anunciar e criar e duas comissões foi a saída que encontrou para
mostrar o poder da sua caneta de presidente da Câmara, mas nem toda CPI
criada prospera no Congresso, especialmente quando tem um viés
antidemocrático, como a do BNDES e dos Fundos de Pensão, com o dedo
dele.
Vão adiante? Muito difícil por um simples motivo: Cunha está mais
sujo do que pau de galinheiro, porque como tantos que já estão
recolhidos ao xadrez, é acusado pelo mesmo crime, o de ser beneficiário
de um esquema corrupto, de assalto aos cofres da Petrobras. Perdeu todas
as condições de continuar no comando da Câmara.
DESMANDOS– Para o líder do DEM na Câmara, Mendonça
Filho, de nada vai adiantar o PT querer se aproveitar do atual momento
para se livrar do lamaçal no qual se meteu. “O escândalo do mensalão, as
denúncias de crime eleitoral e as pedaladas fiscais estão sendo
acompanhadas pela Policia Federal, o Ministério Público, o TSE e o TCU.
Não dá para o PT ignorar isso”, afirmou. Segundo ele, a criação das CPIs
do BNDES e dos Fundos de Pensão não interessa apenas a Eduardo Cunha,
mas ao País. “Os brasileiros querem saber os desmandos do PT”, afirmou.