A
delação de Ricardo Pessoa empurrou Dilma Rousseff de volta para a beira
do abismo. Desde os protestos de março, o governo nunca pareceu tão
frágil, e o desfecho da crise, tão incerto.
O
chefe do "clube das empreiteiras" transferiu a delegacia da Lava Jato
para o Palácio do Planalto. Em uma só tacada, envolveu dois ministros no
escândalo, os petistas Aloizio Mercadante e Edinho Silva, e lançou
suspeitas sobre o financiamento das duas campanhas que elegeram Dilma,
em 2010 e 2014.
Segundo
o jornal "O Estado de S. Paulo", Pessoa ainda entregou aos procuradores
uma planilha com título autoexplicativo: "Pagamentos ao PT por caixa
dois". Se comprovados, os repasses podem desmontar o discurso do partido
de que a prática de receber dinheiro em espécie ficou para trás com o
mensalão.
De
quebra, o delator acrescentou um novo verbete ao dicionário da
corrupção, ao relatar que o tesoureiro João Vaccari se referia à propina
como "pixuleco". Nos últimos dias, o partido voltou a pedir a
libertação do ex-dirigente preso, alimentando os rumores de que ele está
ameaçando romper o pacto de silêncio.
Ninguém
mais questiona a gravidade da situação. Entre sexta e sábado, Dilma
convocou duas reuniões de emergência no Alvorada, atrasando a aguardada
viagem oficial aos Estados Unidos. Passará a visita de quatro dias com a
cabeça no Brasil, onde sua base se desmancha e a oposição tenta
ressuscitar o fantasma do impeachment.
O
repique da crise encontra a presidente mais fraca e mais sozinha, pouco
depois de bater novo recorde de impopularidade no Datafolha. Enrolado
em seus próprios problemas, Lula ensaia um afastamento e sinaliza que
não saltará do precipício com ela. O PMDB retomou o clima de ameaças,
lideradas pelo presidenciável Eduardo Cunha. As citações a Mercadante e
Edinho fragilizam a blindagem que resta, a das paredes e janelas do
palácio.