Da Folha de S.Paulo – Flávio
Em
depoimento de delação premiada, o dono da empreiteira UTC, Ricardo
Pessoa, disse que pagou R$ 1 milhão para o TCU (Tribunal de Contas de
União) liberar a licitação da usina nuclear Angra 3. O relator do caso
foi o ministro Raimundo Carreiro. Após
as pretensões de Pessoa serem atendidas no tribunal, a Eletronuclear
contratou um consórcio integrado pela UTC para fazer a montagem da usina
atômica. Quem
repassava as informações, segundo Pessoa, era o advogado Tiago Cedraz,
filho do ministro da corte de contas Aroldo Cedraz, em troca de
pagamento de R$ 50 mil por mês. Cedraz é o presidente do TCU; Carrero,
seu vice.
A
empresa de Pessoa participou do negócio em consórcio com a Odebrecht,
Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, investigadas na Operação Lava Jato
sob suspeita de pagar propina em contratos da Petrobras.
O custo total da obra, na qual atua também um outro consórcio, é de R$ 3,2 bilhões.
O
empreiteiro também afirmou que desde 2012 obteve informações
privilegiadas do tribunal de contas no julgamento de contratos da UTC
com a Petrobras e nas obras que poderiam ser paralisadas.
Na
última quinta-feira (25), o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori
Zavascki considerou que a delação de Pessoa atende às regras da lei e
homologou o acordo. Ele poderá obter redução de penas se as informações
forem confirmadas por provas.
No
depoimento sobre Angra 3, Pessoa disse que, no final de 2013, conversou
com Tiago Cedraz e explicou a ele sobre dificuldades para liberar a
licitação.
O
tribunal apontava uma série de problemas, como sobrepreço de R$ 314
milhões em relação ao orçamento, equivalente a 10% do valor da obra, e
de "limitada competitividade" em razão das exigências da Eletronuclear.
Técnicos
chegaram a propor a suspensão da licitação, o maior pesadelo das
empresas em virtude dos gastos que tiveram para apresentar propostas.
Na
decisão final do TCU, de setembro de 2014, o relator do caso, Raimundo
Carreiro, mudou seu entendimento sobre a falta de competitividade e
liberou a licitação.
Pessoa
disse que na conversa com o advogado sobre o assunto, Tiago lhe
perguntou quem relatava o caso no TCU. Ele respondeu que era Carreiro.
Tiago, então, teria dito que precisava de R$ 1 milhão para liberar a
licitação do modo que a UTC queria.
Pessoa
diz ter repassado R$ 1 milhão a Tiago, mas não sabe se o dinheiro foi
entregue a Carreiro ou a outros integrantes do tribunal. A concorrência,
porém, foi liberada pela corte de acordo com os interesses da UTC,
ainda segundo Pessoa.
Tiago disse que teve acesso direto a Carrero, assim como a outros ministros e técnicos do TCU, de acordo com o empresário.
Segundo Pessoa, um dos emissários de Tiago que pegava o dinheiro era Luciano Araújo, tesoureiro do Partido Solidariedade.
Carreiro
afirmou à Folha que nunca recebeu valores indevidos nem Tiago no TCU.
Tiago disse que nunca atuou no TCU e que vai processar Pessoa. Também
disse que foi contratado pelo consórcio do qual a UTC fazia parte, mas
não pode revelar o caso.