Cerimônia registrou os primeiros casamentos homoafetivos masculinos do Estado realizados dentro de um presídio
Dois casais de detentos selaram seus relacionamentos
no Centro de Ressocialização de Cuiabá (MT) na quarta-feira, 3. A
cerimônia registrou os primeiros casamentos homoafetivos masculinos do
Estado realizados dentro de um presídio. As informações foram divulgadas
no site do Tribunal de Justiça do Mato Grosso.
Duda e Emerson e Rael e Mauro fizeram um contrato de união estável.
Padrinhos e amigos presenciaram as juras de amor eterno, troca de
alianças, carinho e cumplicidade entre os casais e até o choro da noiva.
“Nunca achei que poderia realizar este sonho, ainda mais aqui dentro
do presídio, vestida de noiva, com alguém que eu amo e quero
compartilhar minha vida toda. Quando eu sair daqui quero vida nova, além
da ressocialização, do trabalho honesto lá fora, eu terei uma família
para cuidar, um marido para me dedicar. Este casamento realmente
transforma a minha vida”, afirmou a travesti Duda Marques, de 32 anos,
que já se apresenta com o sobrenome do marido.
O noivo, Emerson Marques, de 25 anos, disse que não era homossexual
antes de ser preso. Ele contou que tem uma filha de seis anos e convivia
em união estável com uma mulher.
“Foi um pouco difícil no início. Poucas pessoas nos aceitam quando
decidimos mudar e as críticas são grandes. Não é fácil você assumir a
condição de gay, mas hoje é um dia especial para mim. Eu amo a Duda e
carrego comigo a certeza de que quero ficar com ela para a vida toda”,
disse o noivo.
Eles se conheceram dentro do presídio quando Emerson foi preso, há um
ano e seis meses. Casados, eles garantem direitos legais como visita
íntima duas vezes por semana e poderão morar na mesma cela. Fora do
presídio, direitos como adoção, pensão por morte de um dos cônjuges e
direitos de dependentes em plano de saúde estão garantidos.
“O casamento homoafetivo que ocorre hoje dentro do CRC é uma forma de
humanizar estas pessoas que se amam e também de garantir a dignidade e
respeito entre si. Eles, como qualquer pessoa, têm o direito de uma
relação afetuosa, duradoura e estável. Essas situações na verdade já
existem, o que estamos fazendo é garantir que eles possam usufruir de
seus direitos, previstos em Lei”, explica o juiz da Vara de Execução
Penal, Geraldo Fidélis, um dos convidados do casamento.
Rael e Mauro também se conheceram dentro do presídio. Os dois estavam ansiosos pela cerimônia.
O secretário de Estado de Justiça e
Direitos Humanos, Márcio de Oliveira Dorilêo, ressaltou que o casamento é
uma forma democrática de oferecer acesso aos direitos.
“Vivemos em uma sociedade plural e o casamento homoafetivo é uma
conquista. É a materialização de um momento histórico em que Mato Grosso
garante a cidadania das pessoas presas que são do mesmo sexo”, garante.
O casamento contou com outros convidados, dentre eles o presidente da
Associação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de
Cuiabá (ALGBT), Clóvis Arantes, advogados, servidores da Justiça, além
de toda a população homossexual que está abrigada na Ala Arco-íris.