Em despacho favorável à prisão do ex-deputado André Vargas (sem
partido-PR), investigado pela Operação Lava Jato e detido na última
sexta-feira, o juiz federal Sérgio Moro disse ser "inaceitável que
agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de
envolvimento em corrupção e lavagem de dinheiro permaneçam na vida
pública sem grandes consequências". Para o magistrado, é necessária
"infelizmente a intervenção do Poder Judiciário para poupar a sociedade
do risco oferecido pela perpetuação na vida pública do agente político
criminoso".
Moro conduz uma investigação que aponta para o envolvimento de pelo
menos 52 políticos – emtre deputados, senadores, governadores e
ex-parlamentares. É o maior contingente de agentes políticos sob
suspeita de crimes de corrupção e lavagem em um mesmo escândalo.
Cassado em dezembro e fora do PT desde então, Vargas é investigado
pela força-tarefa da Lava Jato em quatro frentes que englobam o
Ministério da Saúde, a Caixa Econômica Federal e o recebimento indireto
de propina do cartel da Petrobras. Ele pode responder em juízo como réu
por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
O caso de Vargas, um dos três primeiros políticos presos pela Lava
Jato, é para Moro exemplo de como o uso do mandato parlamentar para
enriquecimento ilícito deve ser visto como uma traição à confiança da
sociedade.
"A gravidade concreta da conduta de André Vargas é ainda mais
especial, pois as provas apontam que ele traiu seu mandato parlamentar e
a confiança que a sociedade brasileira nele depositou, ao concordar em
utilizá-lo para enriquecer ilicitamente", escreveu. "Chegou ele a
exercer o cargo de vice-presidente da Câmara dos Deputados e ainda
assim, às ocultas, persistiu utilizando seu poder em benefício próprio e
em detrimento dos seus eleitores."
Para Moro, a prisão de Vargas era necessária por ver "concreto risco"
de que, "mantenha, mesmo com o mandato cassado, influência em órgãos
governamentais ou em entidade públicas, com chance de reproduzir
esquemas criminosos". A defesa do ex-deputado nega as irregularidades.