O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) afirmou neste sábado (15) que o Brasil enfrenta
várias crises simultâneas, mas que a presidente Dilma Rousseff 'se sente
ilegítima' mesmo após ter assegurado um segundo mandato.
'A crise é grande. Não é
uma crise, são várias crises ao mesmo tempo. Você tem a sensação de uma
presidente que ganha a eleição, mas se sente ilegítima. Não é sua culpa,
mas se sente', afirmou FHC, durante participação no Festival Piauí de
Jornalismo.
'Você tem um jogo político
mal organizado. Nunca vi um presidente demitir o ministro da Fazenda no
ar. O ministro continua, não tem outro, gera incerteza', criticou o
tucano.
Com relação às crises que o
Brasil estaria enfrentando, o tucano mencionou a falta de alternativa
ao 'sistema de barganha' entre o governo e os 22 partidos do Congresso
(serão 28 a partir de janeiro), a área energética e até o fortalecimento
da direita.
'Há um processo de criação
de núcleos de direita que não tem a ver com o PSDB, com o Aécio. Houve a
instigação nesse sentido pela obsessão do PT em dividir: nós e eles,
nós e eles'', disse.
'Não está claro qual será o
nosso futuro em matéria institucional e, em consequência, a nossa
capacidade de conduzir o país no mundo, que está mudando tão
rapidamente', prosseguiu.
Mas FHC não foi pessimista
todo o tempo. Disse que vê uma 'sociedade com mais dinamismo, com mais
instrumentos de mostrar a sua vontade' e elogiou alguns avanços, como a
atuação independente do Ministério Público Federal e a diminuição do
analfabetismo.
REGULAÇÃO DA MÍDIA
Antes, ao ser questionado
sobre a pouca regulação da mídia no Brasil em comparação com países
desenvolvidos, como EUA e Reino Unido, o ex-presidente disse que, no
país, 'o problema é a falta de confiança na agência reguladora'.
'Ninguém vai confiar. Você
não vai ter uma regulação no sentido objetivo, de garantir acesso, mas
de ser uma coisa mais controlada pelo governo. Tem esse medo de que isso
ocorra', disse.
Ao defender a necessidade
de diversificar os meios de comunicação no Brasil, FHC foi questionado
se isso não envolveria 'quebrar alguns grupos econômicos'.
'Eu não falo de amigos', limitou-se a dizer, arrancando risos da plateia. (Da Folha de S.Paulo)