Ainda conforme o doleiro, a conta de Janene funcionava como caixa do
Partido Progressista (PP). “O caixa dele ficava em minhas mãos”, pontuou
Youssef. Ele também afirmou que cabia ao doleiro Carlos Habib Chater a
entrega de dinheiro para agentes políticos, que eram clientes de
Youssef.
O doleiro Alberto Youssef disse à Justiça Federal, em Curitiba, nesta
segunda-feira (10), ter feito o papel de caixa para o ex-deputado Jo
sé
Janene (PP),
A audiência realizada nesta segunda-feira foi sobre o processo por
lavagem ou ocultação de bens oriundos de corrupção e por crimes
praticados contra a Administração. Carlos Habib Chater, Ediel Viana da
Silva e Carlos Alberto Pereira da Costa também prestaram depoimento
nesta segunda-feira. Os quatro são réus deste processo originado da
Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). Esta audiência ocorreu na
Justiça e não faz parte dos depoimentos da delação premiada que Youssef
tem prestado ao Ministério Público Federal (MPF) na sede da PF, na
capital paranaense, onde está preso desde março deste ano.
Por meio da assessoria, o presidente do Partido Progressista, senador
Ciro Nogueira, informou que o PP não tem conhecimento oficial do teor
dos depoimentos, mas está à disposição das autoridades para colaborar
com as investigações.
Segundo a denúncia formulada pelo MPF, os acusados lavaram recursos
criminosos de titularidade do ex-deputado federal José Janene para
investimentos em empreendimento industrial em Londrina, no norte do Paraná, constituindo a empresa Dunel Indústria.
Youssef negou ser sócio da Dunel ou ter feito qualquer investimento na
empresa. “Minha participação nesse assunto foi só realmente fazer o
depósito” declarou Youssef durante a audiência.
Em relação à origem dos valores de José Janene, Youssef afirmou ser de
“comissionamento de empresas – empreiteiras, esse tipo de empresa”.
Youssef ainda confirmou ao juiz federal Sergio Moro que esses recursos
eram provenientes de propina.
Ao ser questionado pelo advogado de defesa Antonio Figueiredo Basto
sobre a administração da conta com recursos de José Janene, Youssef
declarou que havia valores de outras pessoas além do deputado. “Na
verdade, essa conta era uma conta que também ia recursos para outras
pessoas. Não que eu administrasse o recurso dessas outras pessoas, mas
eu via esse caixa como caixa do partido". O advogado perguntou qual
partido, e Youssef disse: "Partido Progressista". "Só o Partido
Progressista?", insistiu o advogado. O doleiro respondeu: “Sim, senhor”.
Logo após o término da audiência desta segunda-feira, Tracy Reinaldet,
que também participa da defesa de Youssef, já tinha contado que o
doleiro apenas operacionalizou o investimento na Dunel para José Janene.
Reinaldet disse que Youssef não era sócio de Janene nestes
investimentos. "Nunca teve a participação que o Ministério Público quis
atribuir a ele nesta denúncia. Então, nesse sentido a denúncia é fraca",
concluiu.
Youssef é acusado de chefiar um esquema de desvio e lavagem de
dinheiro, estimado em R$ 10 bilhões, desvendado pela Operação Lava Jato
em março. Ele e os procuradores do Ministério Público Federal entraram
em um acordo de delação premiada. Com isso doleiro se comprometeu a
dizer tudo o que sabe sobre o esquema de lavagem de dinheiro que
chefiava, em troca de reduções nas penas que lhe podem ser imputadas.
Na saída da audiência, o advogado de Chater, Roberto Brzezinski Neto,
afirmou que não poderia entrar em detalhes sobre o conteúdo do
depoimento. Ele apenas disse que a audiência foi longa, e que
transcorreu bem. Já Carlos Alberto Pereira da Costa, que advoga para si
mesmo, preferiu não falar com a imprensa. O advogado de Ediel Viana da
Silva não foi localizado pela reportagem.