Veja
Mateus,
o evangelista, registrou em um tom que soa mais como ameaça do que
mesmo conforto: “Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra”.
Dilma pediu votos e os recebeu e, agora de volta a sua sala no Palácio
do Planalto, guardada por três imagens de Nossa Senhora Aparecida,
encontrou o que buscou com tanta volúpia na campanha eleitoral: o
segundo mandato.
Antes mesmo que
ele comece, porém, a presidente está sentindo os primeiros efeitos de
pedir mal, como alertou outro apóstolo, Paulo.
Dilma viu Aécio
Neves, o candidato que ela derrotou, ser recebido em triunfo em
Brasília, aclamado como líder, enquanto ela se isolou no Palácio, com a
melancolia de quem não tem o que comemorar verdadeiramente por, talvez,
não ter perguntado a si mesma antes, não “como” ganhar as eleições, mas
“por quê” e “para quê”. Reeleita, ela ainda não tem as respostas, e, por
isso, depois de abertas as urnas, a presidente parece fechada em um
labirinto.
Seu espaço de
manobra é restrito. De um lado, a economia colhe resultados ruins que,
em grande parte, ela mesma plantou. De outro, os problemas políticos são
maiores, com desconfianças insufladas em seu próprio partido, o PT, e
ambições magnificadas entre os aliados. Para retomar o comando político,
Dilma terá de ceder na economia, liberando as energias do mercado,
cortando gastos, aliviando o peso do Estado sobre os ombros dos
brasileiros. No fundo, ela tem de esquecer os dogmas de seu partido e
suas próprias convicções econômicas e executar o projeto que ela
derrotou nas urnas — o do seu adversário Aécio Neves.
Na semana passada,
a presidente, em entrevista aos principais jornais do país, acenou com a
promessa de ajustes: “Vamos fazer o dever de casa. Vamos apertar o
controle da inflação.” O Banco Central, logo depois da eleição, elevou a
taxa básica de juros, a Selic, para 11,25% ao ano, justificando a
decisão com a ameaça de que a alta nos preços superasse os limites da
meta oficial. Até outro dia, a então candidata afirmava que eram os
tucanos que “plantavam inflação para colher juros”. Na sexta-feira, a
Petrobras reajustou o preço da gasolina e do óleo diesel, em outra
medida impopular que, apesar de urgente, foi jogada convenientemente
para depois das eleições.
Esses ajustes, que
poderiam ser classificados de “estelionato eleitoral”, apesar de a
presidente rejeitar tal classificação, eventualmente podem sinalizar um
mea-culpa, o reconhecimento de que o quadro econômico não é na realidade
tão favorável quanto aquele apresentado anteriormente. Dado o volume de
desequilíbrios acumulados, entretanto, esses ajustes são ainda tímidos e
insignificantes para restabelecer a confiança dos empresários e dos
investidores, e sem essa confiança negócios deixam de ser feitos,
projetos não saem do papel e a economia não cresce de maneira saudável e
sustentável.