Psicólogo diz que ‘choradeira’ da seleção poderia ser evitada com trabalho profissional
A condição emocional da seleção brasileira tem chamado à atenção não só
da torcida. Mesmo eficiente até aqui, o time de Felipão pode ser
prejudicado pelas cenas de fragilidade demonstradas nos rostos dos
atletas. “Pode chorar, é uma forma de extravasar a emoção. Mas, antes de
um momento importante e decisivo, ver o goleiro e o capitão chorando, e
o treinador, em vez de acalmar e motivar, ficar na beira do campo
reclamando da arbitragem e xingando adversários demonstram uma falta de
controle emocional das mais perigosas”, disse João Ricardo Cozac,
psicólogo do esporte e presidente da Associação Paulista da Psicologia
do Esporte. Segundo Cozac, o trabalho da psicóloga Regina Brandão, que
trabalha com Luís Felipe Scolari há anos, deveria ser mais extenso e
focado. “O Felipão achar que representa a Regina na Seleção está furado,
ninguém tem que representá-la a não ser ela mesma. Ele aceita a
psicologia até certo ponto, e esse ponto é muito, muito, muito limitado,
20% do que a psicologia pode oferecer. Os outros 80% o Felipão não
conhece ou não aceita”, analisou em entrevista ao Terra. Ele considera
que a psicóloga deveria ter maior participação em vez de palestras com
ex-jogadores “baseadas só no senso comum”, como tem ocorrido. De acordo
com o psicólogo, o trabalho feito na seleção não foi mais do que um
teste conhecido como POMS (Perfil dos Estados de Humor). “É um
inventário sem validação científica criado nos anos 1970 em um hospital
psiquiátrico nos Estados Unidos e adaptado para a língua portuguesa em
uma tradução superficial, muito falha, para fazer um mapeamento e ver se
há a tendência de cansaço emocional, tensão, depressão...”, explicou.
Dever de casa
Ainda segundo Cozac, esse trabalho psicológico mais profissional
deveria ser feito desde o momento em que o país foi escolhido para
sediar o torneio. “Quando o (presidente da Fifa, Joseph) Blatter abriu o
envelope e saiu o Brasil como país-sede da Copa, tinha que ser iniciado
um trabalho psicológico ao lado da medicina e da preparação física
junto com o treinador, fosse ele Mano Menezes, Felipão, Muricy Ramalho,
Dunga... Um departamento de psicologia deveria manter contato com todos
que foram convocados desde esse período”, opinou. Para ele, esse
trabalho seria integrado por psicólogos, médicos e preparadores físicos
para “se conceber o atleta de forma integral, mente e corpo”. No caso da
reação do capitão brasileiro, Thiago Silva, que não participou da
corrente de jogadores e evitou bater as penalidades iniciais, o
especialista diz que os métodos de escolha desse capitão também deveriam
ser outros. “A psicologia deveria ajudar a achar o capitão. Preferiram
encontrar o Thiago Silva. Quando a Seleção mais precisou dele para
chegar entre os jogadores, conversar e dar força, estava sozinho,
sentado na bola, chorando e sendo acalmado pelo Paulinho, que estava na
reserva. Ou seja, já existe um erro na escolha do capitão”, definiu.