quarta-feira, 26 de março de 2014

EDITORIAL




De todas as transformações que o nosso país enfrenta, não tenho dúvida que a pior delas é inversão de valores. Não estou falando dos atores, mas da plateia. Quem determina o sucesso de um espetáculo é o público. Por melhor que sejam os atores e o enredo, se o público não aplaudir, a turnê acaba.
Nós somos a sociedade, nós somos a plateia, nós dizemos qual o espetáculo deve acabar e qual precisa continuar. Se estamos aplaudindo coisas erradas, se damos ibope a pessoas erradas, de que estamos reclamando, afinal?
Somos nós que continuamos consumindo notícias de bandidos presos e condenados.
Somos nós que consumimos notícias de arruaceiros que ganham mesada para depredar o nosso patrimônio.
Somos nós que damos trela para beijaços, toplessaços, marcha de vadiaças, dos maconheiraços, dos super-heróis que batem ponto em manifestações (e que gostam de cozinhar-se dentro de uma fantasia num sol de 45 graus), e todos os tipos de histéricos performáticos que querem seus 15 minutos de fama.
Quando fazemos isso, estamos dando-lhes valores que não têm. Estamos dando-lhes atenção. Estamos dedicando-lhes o nosso precioso tempo.
Passou da hora de dar um basta nisso!
Por que os nossos jornais estão recheados de funkeiros, ao invés de medalhistas olímpicos do conhecimento?
Por que se vendem mais jornal com notícia de um funkeiro que largou a escola por já estar milionário, do que de um aluno brilhante que supera até seus professores?
Por que sabemos os nomes dos BBBs, e não sabemos os nomes dos nossos cientistas que palestraram no TED?
Por que muitos não sabem nem o que é o TED? Ou Campus Party?
Por que um evento histórico para o Brasil, como o ingresso da primeira turma feminina da Escola Naval, não é noticiado?
Por que um monte de alienadas, com peitos de fora, merecem mais as manchetes do que as brilhantes alunas que conquistaram as primeiras 12 vagas da mais antiga instituição de ensino superior do Brasil?
Por que nós continuamos aplaudindo a barbárie, se ainda temos valores?
O país não mudará se nós não mudarmos o foco. Os políticos não mudarão se nós não refletirmos a sociedade que queremos!
Já passou da hora de nos posicionarmos!
Ostracismo a quem não merece a nossa atenção, e aplausos para quem faz por merecer.
Merecer! Precisamos devolver essa palavra para o nosso dicionário cotidiano.
Meu coração, ao olhar essa foto hoje, se divide em vários sentimentos distintos.
Muito orgulho de ser mulher e me ver representada por essas guerreiras.
Elas não estão fazendo arruaça pleiteando igualdade. Elas conquistaram a igualdade estudando e ralando muito.
Elas tiveram que carregar na mão as suas malas pesadas no dia que entraram na Escola Naval. Não puderam puxar na rodinha, não! Tiveram que carregar na mão igual aos aspirantes masculinos.
Elas foram e fizeram!
Mas, ao contrário das feministas de toddynho, não estarão nas manchetes dos jornais de hoje. E isso me evoca outros sentimentos. Sentimentos de revolta, de vergonha e de constrangimento, frente a essas mulheres, que não serão chamadas de heroínas por apresentadores de televisão. Mas estarão dispostas a morrer como heroínas por nosso país.
Parabéns Primeira Turma Feminina da Escola Naval de 2014!
Vocês são a dúzia que vale muito mais que milhares!(Colaboração: Geraldo  Francisco  de  Lima)