sábado, 22 de março de 2014

Chefia de conselho da Petrobrás dava a Dilma acesso total a dados de refinaria

BRASÍLIA - Dirigentes da Petrobrás afirmam que, como presidente do Conselho

de Administração da estatal, Dilma Rousseff tinha acesso a todos os documentos

produzidos sobre a refinaria de Pasadena, incluindo pareceres jurídicos, antes de dar seu

voto pela aprovação da polêmica compra da planta no Texas, EUA. Conforme revelou ontem o Estado, a presidente da República justificou em nota oficial

que só aprovou a compra de 50% da refinaria americana em 2006, quando era chefe

da Casa Civil do governo Lula e comandava o conselho, porque recebeu "informações

incompletas" e uma "documentação falha". Se tivesse todos os dados, disse a petista na

nota, "seguramente" a compra da refinaria não seria aprovada.

O negócio de Pasadena é investigado pela Polícia Federal, Ministério Público,

Tribunal de Contas da União e uma comissão externa da Câmara por suspeita de

superfaturamento e evasão de divisas. A oposição a Dilma no Congresso tenta também

aprovar uma CPI sobre o caso.

Dilma afirmou nessa nota que, se soubesse de cláusulas como a que obrigava a

Petrobrás a comprar o restante da refinaria em caso de desentendimento com sua sócia,

não teria chancelado o negócio, que custou R$ 1,18 bilhão aos cofres da estatal.

Cláusulas como a Put Option, que obriga uma das partes a comprar as ações da outra

em caso de desacordo, são consideradas praxe na rotina jurídica da Petrobrás, segundo

dois diretores ouvidos ontem, nos bastidores, pela reportagem. Num contrato celebrado

pela Petrobrás com uma sócia na Argentina em 2003, por exemplo, a cláusula estava

Um terceiro diretor, hoje político, também sustenta a disponibilidade de informações a

quem está no conselho. "Acho pouco provável que algum processo chegue ao conselho

(de administração da Petrobrás) sem estar devidamente instruído para liberação dos

diretores e conselheiros", afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que comandou

a área de Gás e Energia da Petrobrás e é apontado como um dos padrinhos de Nestor

Cerveró na estatal. Cerveró comandava a Área Internacional da Petrobrás em 2006 e foi

responsável pelo "resumo técnico" enviado ao conselho naquele ano para que a compra

da refinaria de Pasadena fosse aprovada ou não.

A estatal não se pronunciou oficialmente ontem. A presidente da companhia petrolífera,

Graça Foster, era esperada em evento em São Paulo, mas cancelou sua participação na

Advogados afirmaram que a cláusula de Put Option é comum em negócios envolvendo

grandes aquisições, mas que não é aceitável que essa informação seja omitida do

conselho de administração. "O que não me parece admissível é a Petrobrás, com toda a

estrutura de controle que tem, ter omitido do Conselho de Administração informações

tão importantes, que poderiam ter sido decisivas para o prosseguimento ou não do

negócio", disse o advogado especialista em Direito Empresarial Fernando Tibúrcio

Peña. Nesse sentido, caberia responsabilização de quem omitiu a informação.

Conforme a ata 1.268 da reunião do conselho que tratou da compra dos primeiros 50%

de Pasadena, por "solicitação" do então presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, o

diretor internacional da empresa na época, Cerveró, participou da reunião do conselho,

quando fez um relato sobre o negócio. Antes do colegiado, a diretoria executiva da

empresa estatal já havia aprovado a compra, mas decidiu submetê-la à avaliação do

Outra cláusula. Na nota em que justificou o apoio à compra de 50% da refinaria, Dilma

também disse que não tinha conhecimento de uma segunda cláusula. Chamada Marlim,

garantia à sócia da Petrobrás, a belga Astra Oil, um lucro de 6,9% ao ano mesmo que as condições de mercado fossem adversas. Aqui, segundo os diretores ouvidos

reservadamente pelo Estado, havia uma discrepância. O índice mais usado em negócios

assim é de 5% para baixo sobre o capital investido.

As fontes da Petrobrás informaram, ainda, que o conselho poderia solicitar uma

auditoria no contrato antes da compra, a qualquer tempo, caso houvesse dúvidas

sobre o processo, o que não ocorreu com Pasadena. A Petrobrás só começou a agir

contra o acordo em 2008, dois anos após a aprovação do negócio. Segundo a nota de

Dilma, foi nesse ano que o conselho tomou conhecimento das cláusulas em questão. /

COLABORARAM SABRINA VALLE e MARIANA SALLOWICZ

Matais, estadao.com.br