sábado, 14 de abril de 2018

Segunda mulher na Presidência adota atitude discreta





A primeira foi a ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment
Gustavo Uribe e Talita Fernandes – Folha de S.Paulo
No dia que trocou a toga de ministra pela faixa presidencial, Cármen Lúcia se resguardou. Com receio de criar qualquer atrito que pudesse piorar a relação já conturbada entre Executivo e Judiciário, evitou sentar na cadeira de Michel Temer, não se deixou fotografar pela imprensa e não participou de solenidades públicas.
Para o Palácio do Planalto, no qual despachou durante toda a tarde desta sexta-feira (13), transferiu a agenda de reuniões já programadas para ocorrerem em seu gabinete no prédio da frente, o STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo relatos, quando a conversa enveredava para temas do Executivo, mudava de assunto.
A postura discreta da ministra, conhecida por ser extremamente preocupada com a sua imagem pública, já era esperada por colegas de Suprema Corte. Segundo eles, a ministra tinha o receio de que qualquer atitude sua no cargo pudesse gerar comentários ou críticas.
Para demonstrar publicamente que não tinha qualquer interesse no cargo, por exemplo, fez questão de abrir a agenda pública com dois colegas: Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Na conversa, só tratou da pauta do Judiciário e não fez comentários ou brincadeiras sobre ter assumido o Executivo.
Para reforçar a imagem, evitou utilizar os serviços à sua disposição no Palácio do Planalto: abriu mão de batedores, dispensou os serviços da equipe de Comunicação e não pediu refeições. Nas sete horas que ficou no gabinete presidencial, tomou um único café e bebeu meio copo de água.
O comportamento da ministra foi o oposto de outros que substituíram Temer na linha sucessória presidencial. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, chegou a trazer mais de dez assessores e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), fez questão de ser fotografo nas audiências privadas.
Até mesmo o momento em que teve de tratar de assunto do Executivo foi protocolar, sem controvérsia.
Como é de praxe, o presidente deixa duas propostas para serem sancionadas por seus substitutos.
Para ela, foram selecionados dois temas sem nenhum risco de polêmica: a formalização do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Humberto Martins como corregedor do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e a sanção da criação do Dia do Autismo.