Carlos Brickmann
Nosso panorama de hoje está descrito na esplêndida Marcha da 4ª Feira de Cinzas, de Carlos Lyra e Vinícius: “pelas ruas o que se vê/ é uma gente que nem se vê”. Que nem se sorri, nem se beija e se abraça (...) ” O país do Carnaval ficou triste, ficou chato, só gente querendo tristeza e prisões.
Lula preso ou Lula solto? O raciocínio não é político: é de vitória ou vingança. Lula preso será a alegria de parte da população, feliz de ver seus desejos atendidos; será a tristeza mortal de outra parte. E as consequências? Lula preso é um mártir pronto. Se ficar na cadeia, mártir, com reportagens de jornais internacionais todos os dias; se sair logo, mártir, e um mártir que com seu exemplo terá vencido tudo e todos. E que, por favor, nada lhe aconteça na prisão, ou o candidato dele decola.
Lula solto é a prova de que vale a pena desafiar juízes, insultá-los, tentar desmoralizá-los – e esta será a crença não apenas dos adversários, dos que só se contentariam em vê-lo atrás das grades, algemado e comendo de marmita; vale também para seus aliados, pois a tese é de que decisão da Justiça se combate politicamente.
Lei é lei, acabou-se? O balê de juízes existe, avaliação política existe. Mas, hoje, pensar é arriscado. É só lembrar que a Marcha citada diz, com esperança, “porque são tantas coisas azuis”... Haverá quem acuse os comunistas Lyra e Vinícius de ser coxinhas tucanos hostis ao vermelho.