Mas mantém ‘Plano B’
Partido vai reforçar discurso de que é alvo de perseguição política
Sergio Roxo – O Globo
Lideranças petistas avaliam que a operação da Polícia Federal “constrange e atrapalha” os planos do PT de fazer de Jaques Wagner o plano B caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja impedido de disputar a Presidência da República por causa da Lei da Ficha Limpa.
Dirigentes da legenda acreditam, porém, que o episódio não significará
uma pá de cal para o ex-governador da Bahia porque o discurso de
“perseguição ao partido”, já usado nas acusações contra o ex-presidente,
também se aplica nesse caso e encontra eco em uma parcela significativa
de eleitores.
Outra
aposta é que os adversários terão dificuldade para tratar de escândalos
de corrupção durante a campanha, já que denúncias têm atingido
integrantes das mais diversas legendas.
Wagner
é o preferido da maioria dos dirigentes e parlamentares do PT para
entrar na disputa ao Planalto. O plano na legenda é levar a candidatura
de Lula, mesmo com a condenação em segunda instância que o torna
ficha-suja, até o prazo final para a troca do cabeça da chapa, a 20 dias
da eleição. Se até lá os advogados não conseguirem uma liminar nos
tribunais superiores, ocorreria a mudança de candidato.
O
ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad também é citado como plano B,
mas seu nome enfrenta resistência porque alguns petistas consideram que
ele não defende a legenda de forma enfática. Wagner, que governou a
Bahia por dois mandatos, também tem um retrospecto eleitoral mais
favorável do que o ex-prefeito, derrotado no primeiro turno ao tentar a
releição em 2016. Apesar das preferências, deve caber a Lula indicar o
seu substituto.
No
mês passado, a Polícia Federal indiciou Haddad por caixa 2 eleitoral.
De acordo com a investigação, a campanha de 2012 do ex-prefeito teve
despesas com uma gráfica pagas por fora pela empreiteira UTC.
Para parlamentares do PT, há relação entre as investigações da PF contra Wagner e Haddad.
“Alerta
aos petistas: não cogitem nomes como candidatos à Presidência da
República porque a Policia Federal instaura inquérito e pede busca e
apreensão na casa do sujeito. Já ocorreu com o Lula, com Haddad e agora
com o Jaques Wagner”, escreveu o deputado Paulo Teixeira (SP), no
Twitter.
A
legenda adotou na segunda-feira o mesmo discurso usado para defender
Lula, com ênfase de que o partido é alvo de uma perseguição por parte da
polícia e do Judiciário para não voltar a comandar o país.
Para
o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), é “evidente” a ligação
entre a operação de segunda-feira e o fato de Wagner aparecer como
possível substituto de Lula.
— Na medida que você tem um nome que é colocado como candidato, há um tratamento como esse.
Pimenta
comparou o caso de Wagner com o do senador Aécio Neves (PSDB-MG),
flagrado no ano passado em conversa com o empresário Joesley Batista, da
J&F, em que acerta o recebimento de R$ 2 milhões.
—
O Jaques Wagner nunca se negou a colaborar com a Justiça, sempre se
colocou à disposição. Qual seria o motivo para um pedido de prisão no
caso dele enquanto um senador da República é gravado pedindo propina
para um empresário? — disse o líder do PT.
Horas
depois da operação da PF, o PT divulgou nota em que manifesta
solidariedade ao ex-governador da Bahia. No comunicado, a legenda
classifica a operação de busca e apreensão autorizada pela Justiça como
“invasão da residência” do ex-governador da Bahia. “A escalada do
arbítrio está diretamente relacionada ao crescimento da pré-candidatura
do ex-presidente Lula nas pesquisas. Quanto mais Lula avança, mais
tentam nos atingir com mentiras e operações midiáticas”, afirma a nota.