O
ex-ministro do governo Michel Temer Geddel Vieira Lima disse, em
depoimento à Justiça Federal, em Brasília, hoje, que as ligações feitas
por ele para a esposa do corretor Lúcio Funaro, Raquel Pitta, eram
"amigáveis" e buscavam "prestar solidariedade". Ao contrário do que diz o
Ministério Público Federal (MPF) no processo, Geddel negou ter
pressionado para que Funaro ficasse em silêncio e não partisse para
acordo de colaboração premiada. O emedebista se disse "abandonado" e
acrescentou que foi "lançado no vale dos leprosos".
“Falei algumas vezes com ela, eram telefones amigáveis. Ela (Raquel)
me mandava fotos da filha, mensagens, correntes de orações. (Minhas
ligações) eram uma solidariedade pessoal (à prisão de Funaro)", afirmou
antes de fazer o desabafo sobre sua prisão. "Vejo amigos de longa data
me lançarem no vale dos leprosos", complementou.
No processo, Geddel é acusado de obstrução de Justiça. A suspeita é
de que ele tentou atrapalhar a delação de Lúcio Funaro, na fase em que
ele estava em tratativas com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Na
denúncia, o Ministério Público Federal cita as ligações de Geddel para a
esposa de Funaro. Para os investigadores, as ligações intimidavam
indiretamente o corretor apontado como operador financeiro do grupo
político do qual Geddel faz parte, o MDB da Câmara. As acusações foram
formuladas no âmbito das operações Sépsis e Cui Bono?.
Geddel ironizou quando foi questionado se o ex-presidente da Câmara
dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) o apresentou a Funaro. "Eu creio
que sim", disse sem demonstrar certeza. "Essa memória fantástica só vejo
em elefante ou delator", afirmou.
O ex-ministro também acusou Raquel Pitta de usar as conversas de
forma "orientada" ou "dirigida", mas não especificou quem, em sua
opinião, poderia ter auxiliado a esposa de Funaro. "Me pareceu uma coisa
muito orientada, muito dirigida, não achei que deveria 'printar' ou
guardar provas para uma situação absolutamente surreal", resumiu.
Ao repetir o teor de seu depoimento diante das perguntas do juiz
Vallisney de Souza Oliveira, Geddel argumentou que decidiu "abraçar
completamente a verdade" e citou "Deus". "Ela perguntava pela minha
filha, eu respondia. Essa é a verdade, ela sabe, Deus sabe. Resolvi me
abraçar completamente à verdade. As conversas que tinha sobre Funaro,
tinha também sobre José Dirceu e sobre qualquer pessoa que tivesse nesse
redemoinho (de casos envolvendo a Justiça). Nunca tratei
organizadamente sobre isso”.