Helena Chagas – Blog Os Divergentes
O
Ministério Público Federal reforçou o time da Lava Jato no Rio de
Janeiro com mais um procurador e divulgou um balanço repleto de números
superlativos da operação no estado, a começar pelas vinte denúncias já
formuladas contra o ex-governador Sérgio Cabral. É cada dia maior o
contraste entre as investigações e inquéritos cariocas e aqueles que
tramitam contra os colegas políticos de Cabral em outros lugares do
país, notadamente no STF, em Brasília.
Cabral
virou o réu número um da Lava Jato, diariamente presente na mídia em
novas denúncias, imagens e depoimentos gravados e divulgados, destaque
dado também a acusados a ele ligados. Não se pode aliviar as coisas para
o ex-governador, que parece estar mesmo envolvido num grande esquema de
corrupção, tem contas acertar e não é mero bode expiatório. Mas não é o
único dos políticos de primeira grandeza a serem pegos no flagra. Não
há como não comparar o tratamento dado pelas autoridades de investigação
a Cabral e a outros políticos que, sabe-se, tiveram atuação ativa na
corrupção. A diferença vai ficando cada vez mais clara.
Faz
tempo, por exemplo, que não se vê um depoimento televisado de Eduardo
Cunha, também preso, só que em Curitiba. Dos irmãos Batista, Joesley e
Wesley, detidos em São Paulo, quase não se ouve mais falar na mídia –
que, naturalmente, é abastecida por procuradores, delegados e juízes.
Teve
tratamento discretíssimo também no Ministério Publico e na PF o
depoimento do chamado “homem da mala”, o ex-deputado Rocha Loures – que,
por sinal, fez de tudo para poupar o ex-chefe Michel Temer. Até renegar
a conhecida e antiga amizade com o presidente ele renegou. Mas o
detalhe é que o depoimento de Loures foi tomado em novembro – e apenas
nesta segunda-feira chegou às mãos da imprensa. Vídeo, ninguém divulgou
nem vazou.
Tudo
isso reforça a forte impressão de que a Lava Jato, nos seus estertores,
vai se concentrando e circunscrevendo ao Rio de Janeiro. E que pode
tratar-se de uma estratégia, uma maneira de tentar passar à opinião
pública a ideia de que ela não morreu, desviando o foco da lerdeza do
Supremo e dos malabarismos que vêm poupando os políticos de Brasília,
inclusive o próprio Temer.
Todo
mundo sabe que, neste ano eleitoral, é preciso dar carne aos leões da
mídia e da opinião pública. Pelo jeito, porém, vai ser um churrasco
carioca.